quarta-feira, maio 31, 2006

454) Terceira Conferencia Mundial de Relacoes Internacionais (Brasilia, 9 a 12 de outubro de 2006)

453) Itamaraty libera materiais de arquivo do tempo da ditadura

Do blog de Josias de Souza (FSP), desta terça-feira, 31 de maio de 2006:

Itamaraty e PF liberam papéis secretos da ditadura

O Itamaraty e o Ministério da Justiça (Polícia Federal) transferiram para o Arquivo Nacional milhares de documentos secretos produzidos entre 1964 e 1975, sob a ditadura militar. Uma equipe de técnicos da repartição, ainda por nomear, vai catalogar os papéis. Depois, eles estarão disponíveis para consulta pública.

A liberação dessa nova leva de documentos secretos ocorre nas pegadas de providência semelhante adotada pelo governo no final do ano passado. Enviaram-se ao Arquivo Nacional, em dezembro, 13 arquivos de aço com dados colecionados por agentes do extinto SNI. Encontravam-se sob a guarda da Abin.

Diferentemente do que aconteceu com a abertura dos arquivos do SNI, anunciada com espalhafato pela ministra Dilma Rousseff (Gabinete Civil), o novo gesto foi cercado de discrição. O governo receia criar uma demanda por informações que, por ora, o Arquivo Nacional não está apto a atender.

Ainda às voltas com a digestão dos documentos que recebera em dezembro, o órgão não teve tempo de dedicar-se à nova montanha de documentos, cujos segredos desconhece. Os cerca de 30 funcionários que trabalham na Coordenação do Arquivo Nacional em Brasília suam a camisa para atender a uma média mensal de 120 requisições de pessoas interessadas em saber o que há a seu respeito ou sobre seus familiares nos arquivos do SNI.

Daí a preocupação em não fazer alarde em torno da abertura de mais dois armazéns de papéis da ditadura, o do Itamaraty e o da PF. O trabalho do Arquivo Nacional é, por ora, braçal. Tenta-se fechar uma parceria com a Unesco, que se dispôs a financiar a digitalização das informações do SNI.

Hoje, os dados estão armazenados em cerca de 220 mil microfilmes. Juntos, contém mais de 1 milhão de folhas de papel, sem contar os anexos (fotos e livros, por exemplo). Levado ao ambiente digital, o papelório poderá ser consultado com o auxílio da informática. Até lá, o Arquivo Nacional atende como pode às requisições. São formuladas majoritariamente por pessoas que movem ou planejam mover processos para obter indenizações do governo.

O último a obter documentos, na quinta-feira da semana passada, foi César Lamarca. Levou dados a seu respeito e de familiares, em especial seu pai, o guerrilheiro Carlos Lamarca, morto em 1971. Lamarca foi companheiro de armas da também guerrilheira Vanda, codinome que escondia a identidade de Dilma, hoje ministra.

A transferência de documentos sigilosos da ditadura para o Arquivo Nacional é um notável avanço democrático. É indispensável lembrar, porém, que Fernando Henrique Cardoso baixou e Lula manteve legislação que dá ao Executivo o poder de manter sob sigilo eterno documentos ultra-secretos que, a seu juízo, ponham em risco a Segurança Nacional.

Trata-se de uma afronta ao bom-senso, à historiografia, aos valores democráticos e ao próprio espírito da Constituição. Escorados nessa legislação, os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica não movem uma palha para abrir os seus arquivos, mesmo os que se encontram recobertos pela poeira da história.

Escrito por Josias de Souza às 00h42

452) Alunos empreendedores (e perguntadores...)

Participei, na segunda-feira 29 de maio de 2006, da abertura do III Fórum de Formação e Profissionalização em relações internacionais, organizado conjuntamente pelo Centro Acadêmico Guimarães Rosa do curso de graduação em Relações internacionais da USP e pela empresa RI USP Jr, de alunos do mesmo curso.
Gostaria, em primeiro lugar, de deixar consignado meu reconhecimento pelo convite e meu agradecimento pela forma gentil e atenciosa com que fui tratado. Trata-se de um encontro com vários eventos sucessivos, que se desenvolve durante toda esta semana nas dependências do curso, e que demonstra o esforço que esses alunos vêm fazendo para se qualificar acadêmica e profissionalmente e se dotarem de "instrumentos" para se inserirem, desde já, no mercado de trabalho.
Fiz, na abertura, depois de uma exposição do Professor Rafael Villa sobre o desenvolvimento epistemológico das relações internacionais enquanto disciplina acadêmica, uma breve exposição sobre formação e profissionalização na área, em seu conjunto, consoante a questão que me tinha sido colocada pelos organizadores.

Em intenção dos curiosos e ausentes, transcrevo abaixo a versão textual do suporte em PowerPoint de minha apresentação, evidentemente telegráfica nessa forma, e que não é suscetível de abrigar todos os meus comentários (alguns desabusados) feitos na ocasião.
O fato é que ambos, o professor Villa e myself, nos estendemos em demasia nas palestras iniciais, não dando tempo suficiente, provavelmente, para respostas circunstanciadas para as muitas perguntas que nos foram feitas.
Eu pelo menos recolhi sete papeletas -- foi o que me passaram, pode ter havido outras -- com questões interessantes, às quais não pude dar respostas adequadas ou completas. Seria minha intenção, respondê-las de alguma forma, como venho fazendo de maneira ad hoc aos que me consultam -- repórteres, estudantes e outros curiosos -- sobre essas mesmas questões.
O mais provável é que eu reuna todos os meus textos dispersos e esparsos que abordaram essas questões e consolide numa matéria do tipo "Tudo o que você sempre quis saber..." e coloque depois à disposição dos interessados, no meu site ou neste blog.
Por enquanto, fiquem apenas com minha apresentação...

O Internacionalista e as Oportunidades de Trabalho: desafios
Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

Apresentação na Semana de Relações internacionais
do curso de relações internacionais da USP
(29 de maio de 2006, 17h30; FEA)

Transcrição de apresentação em PowerPoint:

1)
Fórum de Formação e Profissionalização em Relações Internacionais
Painel 1:
Origem, história e especificidade das RIs
São Paulo, 29 de maio de 2006, 17h30-19h00
FEA-USP

2)
Sumário da apresentação:
Quem é o profissional de relações internacionais e quais seriam os principais desafios do ponto de vista de sua formação educacional e de sua inserção profissional?
1. Um novo “personagem" na paisagem brasileira: o bacharel em relações internacionais.
2. Quem é ele?; o que ele é capaz de fazer?
3. Os cursos entregam o “produto” pronto?
4. O que podem fazer os alunos e os cursos?

3)
1. Um novo “personagem” na paisagem brasileira: o profissional em relações internacionais...
A grande transformação: o fim da história e a explosão dos cursos mercantis...
- Abertura internacional da economia brasileira nos anos 1990: globalização e regionalização como fatores indutores;
- Lei de Say (a oferta cria a sua própria demanda): surgimento de novas oportunidades profissionais no mercado.

4)
… alguns outros elementos relevantes para avaliar o “personagem” ...
Ponderar fatores de qualidade, derivados da:
- disponibilidade de bons cursos (avaliação curricular e parâmetros de formação);
- oferecimento de oportunidades reais (o curso está conectado com a sociedade?);
- integração e segmentação dos mercados (barreiras à entrada diminuem eficiência);
- empreendedorismo e cultura estatizante (quantos vão fazer concurso público?);

5)
2. Quem é o profissional de RI?; o que ele é capaz de fazer?
Sim, ele é capaz de muitas coisas, mas…
➢ possui capacidade analítica comprovada?
➢ tem ferramentas adequadas ao seu trabalho?
➢ foi preparado para ser um autodidata?
➢ tem idéia das oportunidades brasileiras?
➢ pôde seguir especializações instrumentais?
➢ foi exposto a simulações da realidade?
➢ aprendeu que na prática a teoria é outra?
➢ saiu do casulo universitário para a vida real?
➢ enfim, como pretende construir sua carreira?

6)
...outros elementos relevantes do homem com qualidades...
Quais são as qualidades do profissional RI?
- saber que existem várias RIs no mundo;
- que existe uma RI para a sua situação;
- que ele pode construir a sua própria RI;
- que isso pode ser feito cooperativamente;
- que self-reliance é a melhor receita;
- que prospectiva é melhor que perspectiva;
- que diversificação é um bom seguro-risco;

7)
3. Os cursos entregam o “produto” (o “personagem” RI) pronto?
Não, os cursos entregam um “produto” apenas parcialmente pronto;
Por que?…
> existem deficiências intrínsecas aos cursos
(nenhum curso é perfeito…);
> Um problema tradicional: - Por que ninguém me chama?
(os alunos acham que as empresas e organizações internacionais não se lembram que eles existem; ignoram que eles são bons, quase perfeitos…).

8)
… alguns aspectos da paisagem para o profissional em RI...
- Setor público (diplomacia and other few);
- Setor acadêmico (retornos decrescentes);
- Setor privado (maiores oportunidades);
- ONGs e outros alternativos (“idealistas”);
- Organizações internacionais (sortudos);
Empreendedorismo individual e coletivo:
- O mercado vai crescer?;
- Entzauberung: da ilusão à frustração…

9)
4. O que podem fazer os alunos e os cursos?
Reinventar sua própria formação:
➢ autodidatismo é sempre bem-vindo;
➢ políticas de formação para nichos especiais de mercado;
➢ seguimento das primeiras gerações de RI
(alguém se lembrou de fazer uma pesquisa?);
➢ um mercado ainda em testes...
Desafios e mais desafios…

10)
…grandes e pequenos problemas da profissionalização
As “irracionalidades” do processo de formação e de inserção no mercado…
➢ sempre tem algum detalhe não trabalhado;
➢ os formandos esperam ser chamados?;
➢ a regulamentação como remédio: de volta às corporações medievais de ofício?;
➢ da saturação à acomodação, em poucos anos mais (sedimentação e nichos).

11)
Ao fim e ao cabo…
…existem vantagens em ser um internacionalista: quais são elas?:
➢ mobilidade intersetorial;
➢ mobilidade espacial (geográfica);
➢ flexibilidade curricular e mental;
➢ nomadismo assegurado (às vezes grátis);
➢ acumulação “primitiva” de milhagens;
➢ aprender a pensar em inglês...

12)
Obrigado!
Paulo Roberto de Almeida
www.pralmeida.org
http://diplomatizando.blogspot.com/

terça-feira, maio 30, 2006

451) Negacionistas sempre voltam a negar o indesmentível..

Do blog da revista Foreign Policy desta terça-feira 30 de maio de 2006:

Implausible Deniability

I’ve always been uncomfortable with Holocaust Denial laws. It seems to me that the evidence for it is so irrefutable that there’s no need to make denying it a criminal offense. The presence of these laws on the books allows cranks to get mileage about asking why they’re there. Mahmoud Ahmadinejad tries this tack in his interview with Der Spiegel:

SPIEGEL: Even though no Western scholars harbor any doubt about the Holocaust?

Ahmadinejad: But there are two opinions on this in Europe. One group of scholars or persons, most of them politically motivated, say the Holocaust occurred. Then there is the group of scholars who represent the opposite position and have therefore been imprisoned for the most part. Hence, an impartial group has to come together to investigate and to render an opinion on this very important subject, because the clarification of this issue will contribute to the solution of global problems. Under the pretext of the Holocaust, a very strong polarization has taken place in the world and fronts have been formed. It would therefore be very good if an international and impartial group looked into the matter in order to clarify it once and for all. Normally, governments promote and support the work of researchers on historical events and do not put them in prison.

SPIEGEL: Who is that supposed to be? Which researchers do you mean?

Ahmadinejad: You would know this better than I; you have the list. There are people from England, from Germany, France and from Australia.

Now, it is unlikely that anyone twisted enough to agree with the David Irvings of this world changes their mind because Irving was arrested. Indeed, I expect the fact he’s been banged-up strengthens the convictions of his loony followers. It also allows Ahmadinejad to make absurd claims like this.

Is it scarier that Ahmadinejad is deluded enough to believe that the Holocaust didn’t take place, or that he thinks stoking doubts about it is a winning political strategy? All in all, not the kind of man you want within a hundred miles of a nuke let alone with his finger anywhere near the trigger.

450) Revista do FMI compara Asia e America Latina...

A revista do FMI, Finance and Development, em seu número de Junho de 2006, traz inúmeros artigos sobre o desenvolvimento em escala mundial, sobretudo a ascensão asiática, o papel dessa região na economia mundial, os desafios em face da globalização, os problemas financeiros e de investimentos e, mais interessante do nosso ponto de vista, por que os asiáticos tiveram um desempenho superior ao dos latino-americanos na história econômica recente:

Neste artigo:

What Happened?
Anthony Elson
Why East Asia surged ahead of Latin America and some lessons for economic policy. In 1950, Latin America was the most developed region outside the industrialized countries, but half a century later East Asia had leapt to the front, while Latin America's position had declined. A look at the underlying reasons.

Transcrevo abaixo esse artigo, mas recomendo sua consulta online, uma vez que ele contem tabelas que não serão recuperadas neste post ou estarão completamente desformatadas. Ver o artigo neste link:
http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2006/06/elson.htm

What Happened?
Anthony Elson

Why East Asia surged ahead of Latin America and some lessons for economic policy.


In 1950, Latin America was the most developed region outside the industrial countries, with an average real GDP per capita more than two and a half times that of East Asia (excluding China and Japan), and about one-fourth that of the United States. By the beginning of the current century, however, this relative position had been reversed: the real GDP per capita of the East Asian region had more than doubled, relative to the United States, whereas that of Latin America had declined (see Table 1).

What accounted for this big shift in fortunes? Clearly, many factors need to be considered, including the differences in countries' initial conditions, such as the impact of culture, historical traditions, and natural endowments. One way of organizing one's thinking is to consider the so-called deep determinants of economic development, which reflect some of the impact of initial conditions and other fundamental factors in the development process: geography (natural endowments, distance from the equator or from major markets), integration (trade and other policy reform), and institutions.

Geography, it turns out, does not significantly differentiate Latin America and East Asia. Both regions contain resource-rich and resource-poor countries; both regions include a roughly similar portion of territory in the tropics; and both are similarly located in relation to major trade markets.

In relation to integration and institutions, a comparison of the recent development experiences of East Asia and Latin America highlights three factors that can account for much of Latin America's lagging economic performance during the second half of the past century: its problems of macroeconomic instability; its low level of integration with the global economy; and the poor quality of its public institutions.

Table 1
Reversal of fortunes
East Asia has surged ahead while Latin America has lost ground.
(ratio of income per capita to that of the United States, at purchasing power parity, 1990 dollars)
1950
2001
East Asia1
0.057
0.151
East Asia (excluding China)
0.097
0.215
Latin America
0.263
0.208
Source: Maddison (2003).
1Comprises China, Hong Kong SAR, Korea, Singapore, and Taiwan Province of China, plus Indonesia, Malaysia, Philippines, and Thailand.

Too much macroeconomic instability
Most of the growth divergence between the two regions occurred in the last quarter of the 20th century. For Latin America as a whole, economic growth was particularly weak during the 1980s—the "lost decade"—when real GDP per capita fell by nearly 1 percent in the wake of adjustments to a regional debt crisis. Average real income picked up in the 1990s but still grew by only 1.9 percent, while the region's open unemployment rate, according to data from the International Labor Organization, rose to 10 percent by the end of the decade. Real income growth was weaker in the second half of the 1990s than for the decade as a whole, and, during 1998–2003, it was zero, although there has been an encouraging recovery since then. By comparison, growth in real GDP in East Asia was about 6 percent a year, on average, during these same periods. In addition, growth has been significantly more volatile in Latin America than in East Asia since 1980.

A comparison of other indicators of macroeconomic performance also reveals dramatic differences between the two regions: domestic savings and investment, trade openness, and financial deepening show substantially higher values for East Asia (see Table 2). A regional comparison of the incidence of extreme poverty (those living on less than $1 a day) and income inequality also shows marked differences, with Latin America exhibiting little or no change in these measures of development from 1980 to 2000.

Table 2
Growing divergence
(não reproduzida)

Underlying these differences was the lack of consistent and stable economic policies in Latin America. The absence of a stable policy environment, with relatively low inflation, competitive exchange rates, and positive real rates of interest, is clearly detrimental to long-run decisions for investment and growth. This principle was enshrined in the "Washington Consensus" of the early 1990s and generally received wide credence among economic officials in Latin America. It has also long been a bedrock for most of the East Asian economies, which, relatively early in their post–World War II development, established a reputation for fiscal prudence, low public debt, and high domestic savings.

By contrast, the record of Latin America, traditionally plagued by fiscal instability and high inflation, has been far weaker. Recently, under the impetus of macroeconomic reforms to improve domestic tax systems and privatize loss-making public enterprises, Latin America has reduced its chronic inflation and improved fiscal performance, but other elements of macroeconomic instability that discouraged productive investment and growth continue to exist (see F&D, December 2005).

Fiscal policy. Average fiscal deficits in relation to GDP were reduced significantly across Latin America in the 1990s, but fiscal policy in many countries continued to be procyclical (exacerbating booms in the upswing, and recessions in the downturn, of the economic cycle) and to depend heavily on external financing. These characteristics intensified growth volatility, especially in the face of highly variable private capital flows (so-called sudden stops), which contributed to capital account crises. The data presented in Table 2 suggest that the variability of capital flows during the past two decades was not substantially different in the two regions. However, East Asia was better equipped to withstand external shocks from unstable capital flows because of the stronger fiscal positions of its governments, low public external debt, and more robust export sectors. The region even recovered relatively quickly from the financial crisis of 1997–98 and has resumed a robust growth trajectory.

More recently, Latin American governments have been able to maintain a more disciplined approach, maintaining high primary surpluses and bringing down public debt. A particularly noteworthy example is Chile, which has now set a high standard for fiscal policy management for emerging market economies with its structural surplus rule.

Financial system stability. During the past two decades, according to World Bank data, Latin America was subject to more systemic banking crises than any other region in the world, except for sub-Saharan Africa. In many cases, these crises were a consequence of boom-bust cycles induced by fiscal instability and sudden stops in private capital flows, but they also reflected poor bank management, especially of state banks, and weak regulatory systems. These crises, in turn, tended to exacerbate the region's public debt problems, as their resolution required government intervention and financial support exceeding, in some cases, 20 percent of GDP.

Financial system instability has also led, over time, to relatively low rates of financial intermediation, widespread substitution of the U.S. dollar in domestic financial transactions, and high interest rates (with large spreads between domestic lending and deposit rates). At the same time, the flow of bank credit to the private sector in most Latin American countries was less than 30 percent of GDP during the second half of the 1990s.

The contrast with East Asia could not be more striking. Typically, in the East Asian economies, financial intermediation ratios (as measured by broad money in relation to GDP) were above 90 percent in the 1990s, and credit flows to the private sector generally exceeded 80 percent of GDP. While East Asia has also had to deal with banking problems (especially in the crisis period of 1997–98), real interest rates have not exhibited the volatility or high levels sustained in many countries of Latin America and have typically been in the single-digit range. Correspondingly, investment ratios have been much higher in East Asia than in Latin America.

Exchange rates. Another aspect of macroeconomic instability that has differentiated the two regions relates to exchange rate behavior. Key elements of the macroeconomic reforms implemented in Latin America since the late 1980s have been a reduction in trade barriers and a move toward more competitive exchange rates. In both respects, Latin America has traditionally lagged behind East Asia. In addition, during the 1990s, exchange rates, in real effective terms, tended to appreciate significantly in Latin America, reversing the course set in the previous decade. To a significant extent, this tendency resulted from the frequent use of the exchange rate as an anchor for achieving domestic price stabilization, especially in the early 1990s. More recently, Latin American countries have shifted toward more flexible regimes, many using inflation targeting as an effective anchor.

Less integrated with the global economy

While Latin America has lagged behind East Asia in establishing the conditions for the macroeconomic stability needed to sustain growth and development, it also fell behind in its integration with the global economy and the competitiveness of its manufactured exports. In 2000, total exports of Latin America represented only 5½ percent of global exports, unchanged from 1980 (see Table 3). Over the same period, exports of East Asia more than doubled from 8 percent to 20 percent. East Asia has also exhibited higher levels of intra-industry trade, as measured by the ratio of merchandise trade to merchandise value added, which reflect its growing participation and specialization within global production chains.

Table 3
Fruits of integration
East Asia has benefited far more than Latin America from the expansion of global trade.
1980
1990
2000
(percent share of world exports)
East Asia
8.0
13.0
20.0
Latin America
5.5
4.2
5.6
(percent share of world imports)
East Asia
8.6
12.5
18.0
Latin America
6.1
3.7
5.9
(ratio of merchandise trade to merchandise
value-added, percent)
Asia
93.8
115.8
168.5
China
12.1
23.7
32.1
NIEs
216.5
259.5
365.5
Other
39.4
52.4
84.3
Latin America
37.2
42.6
58.6
Mexico
22.8
48.3
102.6
Sources: UN Comtrade data; and IMF, World Economic Outlook database.
Note: Asia includes Bangladesh, Pakistan (in "other"), and India.
NIEs = newly industrialized economies.

Most of East Asia's growth in intra-industry trade has been in high-technology exports (such as electronic and communications technology components), which have been the category of most rapid growth in world trade. In Latin America, except for Brazil and Mexico, export growth was heavily weighted toward natural resource commodities and low- and medium-technology exports. As a result, whereas East Asia's share of global manufactured exports rose sharply, that for Latin America remained flat. Excluding Mexico, Latin America's share of global manufactured exports was only 2 percent, a rate below that recorded in 1980. In a global economy in which international production systems for commodities such as automobiles, electronics, and garments have become increasingly fragmented across national boundaries and trade in manufactured goods (mostly in the form of intrafirm trade) has risen to 80 percent of total trade, East Asia has benefited far more than Latin America from the gains of global trade patterns.

A key driver in the trade dynamics described above has been foreign direct investment (FDI) by multinational corporations. Not only has East Asia generally received more FDI flows than Latin America but the flows to East Asia have also mostly been channeled into manufacturing, which has fed exports. In Latin America, during 1996–2000, roughly half of FDI flows were related to mergers and acquisitions in connection with the privatization of state-owned utilities and domestic banks. Much of the rest has been directed, particularly in the Southern Cone and Andean countries, to the exploitation of natural resources (mining, oil, and forestry), where restrictions on private and foreign participation have been lifted under the reform effort. In the Caribbean and Central America, countries like Costa Rica and the Dominican Republic have followed the pattern of the Mexican maquila industry in using FDI to support exports to the U.S. market of electronic components and garments, based mainly on imported inputs and enclave production in export processing zones. However, most economies remain more closed than their Asian counterparts. Mexico is the one Latin America country that comes close to the East Asian model in its export drive.

Differences in FDI have also affected technological capacity and intraregional trade. Latin America has not upgraded its technology as fast as East Asia, leading to weaker performance across a range of indicators, such as transport costs; port efficiency; and depth of road, rail, and airfreight facilities. Similarly, tertiary enrollments in science and engineering education and business expenditures on research and development, on average, are well below the regional average for East Asia. Korea, Singapore, and Taiwan Province of China are among the world leaders in these areas.

The dynamism of investment and exports in East Asia has also been enhanced by regional forces (or positive "neighborhood effects"). Intraregional trade has been growing sharply among East Asian countries and, by the end of the past decade, represented about 37 percent of total regional trade; for Latin America, intraregional trade accounted for only about 18 percent of total trade flows. This phenomenon is likely to increase in East Asia with China's increasing dominance as a major world exporter and destination for FDI flows.

Better public institutions needed
Increasingly, institutions are seen as accounting for divergent growth patterns across countries. Analysts have identified three areas in which government institutions have helped underpin growth in East Asia. One is the strong record of policy consistency of governments: policy credibility and political stability, along with a stable macroeconomic environment, have underpinned the promotion of long-term investment in East Asia. A second element is the strong focus on economic development as a strategic national goal. Such a strategic vision projected by national leaders has been especially characteristic of China, Korea, Malaysia, Singapore, and Taiwan Province of China.

Third, the strength and independence of government bureaucracy has also been important to East Asia's economic development and has too often been lacking in Latin America. Asian governments have tended to foster the development of a professional, merit-based civil service tradition, insulated from political influence, to implement economic policy in close consultation with business groups. To streamline decision making, lead government agencies with strong coordinating authority were created to translate a national strategic vision of economic development into specific actions. Singapore's Economic Development Board is a prominent example of such an institution. Singapore has been one of the top-rated countries in the world for the quality of its public institutions, and seven of the East Asian countries surveyed in the World Economic Forum's 2004 Competitiveness Report were in the top half of countries. Most of the Latin American countries were in the bottom half.

Notwithstanding the strength of East Asia's government institutions, the Asian financial crisis revealed how, in certain cases, close coordination between the public and private sectors gave rise to serious problems in corporate governance and regulatory forbearance. This experience showed that certain institutional arrangements that may have been effective at earlier stages of development needed to be adapted and transformed as market-based arrangements expanded more fully.

Despite these problems, the elements of strategic vision, policy consistency, and bureaucratic autonomy in East Asian societies during their postwar development have compensated for the lack of well-developed market-based institutions and legal frameworks that supported economic development in the advanced countries. By the same token, these elements were not particularly prominent in Latin America, where many governments exemplified capture by special interests or were dominated by patron-client-based political parties focused on the distribution of rents to favored elements of society. In respect of bureaucratic strength, there are clear examples (such as Brazil, Chile, and Mexico) of strong ministries of finance and independent central banks that have developed more recently in the region, but a professional civil service tradition has not generally been fostered. Often, government office holding has been a reward for political support of the ruling political party.

Latin America's recent economic record, unlike that of East Asia, is clearly mixed in terms of reform results and benefits gained from globalization. Four key lessons for economic policy can be drawn from these compared experiences.

First, the requirement of macroeconomic stability for sustained economic growth must be viewed as more than simply an issue of maintaining low inflation and fiscal control. The soundness and stability of the financial system is an essential ingredient of the appropriate macroeconomic framework for development. Stable and competitive values for the real exchange rate and domestic real interest rates are critically important as well.

Second, notwithstanding past debates about the relative importance of the state and the market in the development process, governments have a crucial role to play in supporting economic growth through the establishment of good infrastructure, support for technical training and local technology absorption, and the promotion of exports and FDI.

Third, if governments are to play a positive role in the development process, then the integrity of public institutions needs to be ensured. In many countries, this will require continued public sector reform to streamline bureaucracies and establish independent judiciaries, tax and customs authorities, and regulatory agencies. Strong support should also be given to anticorruption initiatives and the development of civil society organizations to strengthen oversight of government activities.

Fourth, the experience of East Asia has shown that institutions are context-specific and need to be adapted over time. In the absence of well-developed legal frameworks for property rights at the beginning of the post–World War II development phase, other arrangements, including close coordination between government and business, clear policy signals, and good public administration, provided the necessary institutional support for productive investment. At later stages of the development process, however, experience has shown that these arrangements needed to be supplemented by appropriate regulatory and governance structures to support an evolving market-based system.

References:
International Monetary Fund, 2005, "Latin America: A Time of Transition," Finance & Development (December).
———, World Economic Outlook, October 2002 and 2003 (Washington).
Maddison, Angus, 2003, The World Economy: Historical Statistics (Paris: Organization for Economic Cooperation and Development).
United Nations Conference on Trade and Development, World Investment Report 2003 (Geneva).

Anthony Elson is a former Senior Advisor in the Asia and Pacific and the Western Hemisphere Departments of the IMF. He is currently a consultant with the World Bank, as well as a Professorial Lecturer at the Johns Hopkins School for Advanced International Studies and a Visiting Lecturer at the Duke University Center for International Development.

segunda-feira, maio 29, 2006

449) Sobressaltos da construcao européia: o não francês, um ano depois

Importante artigo do Le Monde:

Enquête
Le rêve européen confisqué
LE MONDE | 26.05.06 | 13h19

Ce fut non. Un non franc et massif. Le 29 mai 2005, 54,67 % des Français ont
rejeté la Constitution européenne. Parce qu'ils ne se reconnaissaient plus
dans cette Europe bâtie avec l'Allemagne au sortir de la guerre. Et parce
que, "dans cette grande Europe, on ne se sent pas chez soi", comme le
déplore le chrétien-démocrate allemand Karl Lamers.

Accédez à l'intégralité de cet article sur Lemonde.fr
http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3230,36-776470,0.html

Ou então, em meu blog auxiliar, onde ele está transcrito:
http://textospra.blogspot.com/2006/05/90-sobressaltos-da-construo-europia-o.html

domingo, maio 28, 2006

448) Legiao Estrangeira Futebol Clube

Voilà, não tenho muito mais a acrescentar, salvo que eles poderiam talvez cantar, em lugar do Hino Nacional, a "Internacional" (do capital, bien sûr...)

Ensaio: Roberto Pompeu de Toledo
Seleção brasileira de estrangeiros
Veja, 31 de maio de 2006

Eles vestirão a camisa amarela e cantarão o Hino, mas para eles o Brasil é uma realidade distante

Fred veio em seu próprio carro, desde a França, deslizando pelas magníficas estradas européias. O grupo de Milão – Kaká, Cafu, Dida – chegou junto, também de carro, ao cabo de um confortável passeio de 200 e tantos quilômetros. Ronaldo desembarcou de jatinho. Ele tinha viajado com a namorada para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e, como de lá seria complicado voltar a tempo em avião de carreira, alugou um. Outros vieram do Brasil, país ao qual por vezes lhes ocorre dar um pulo, entre um compromisso e outro. O ponto de encontro era Weggis, à beira do Lago de Lucerna, na Suíça. Era a seleção brasileira reunindo-se para a Copa da Alemanha. Mas, se se quiser interpretar como um clube de milionários atendendo ao chamado para sua reunião quadrienal, também se estará certo.

A nossa será possivelmente a seleção mais bem paga na Alemanha. Nunca um Brasil tão rico se apresentou a uma Copa do Mundo. Mas, fora detalhes como vestir a camisa amarela e cantar o Hino..., é o Brasil mesmo o que eles representam? Seus componentes são brasileiros, mas vivem a uma distância segura do PCC. Notícias de mensalão e de máfia das ambulâncias chegam a eles como ecos de um outro mundo. Não por acaso, o grupo se reuniu na Suíça, onde se pode estacionar o carro sem trancar as portas e nunca se registrou um caso de bala perdida. Ali se hospedou no Park Hotel Weggis, sediado numa nobre edificação do século XIX, e fechado para atendê-lo com exclusividade. O ambiente belle époque é o da Montanha Mágica, de Thomas Mann, sem a tuberculose.

Os milhões que hoje em dia giram em volta da seleção brasileira ilustram a evolução do futebol, em tempos de capitalismo e meios de comunicação globalizados. Em sua época, Pelé amealhou fortuna que equivaleria à de um craque de segunda linha hoje. Mas não é bem a riqueza o que empresta um caráter único à seleção de 2006. É antes sua característica de legião estrangeira. Em 2002, dos 23 convocados para a Copa do Japão e da Coréia, os jogadores que atuavam no Brasil ainda eram maioria – treze contra dez. Já estávamos numa fase de exportação maciça de craques, mas ainda assim, e ainda que por pouco, os de casa eram maioria.

Entre os 23 de agora, só dois jogam no Brasil, Rogério Ceni e Ricardinho. Os outros 21 são profissionais acostumados a outras línguas e a outros códigos. Num programa recente, o canal SporTV exibiu Kaká a circular por Milão, conduzindo seu carro e mostrando a cidade para o repórter, a seu lado. A certa altura ele pára diante do Convento de Santa Maria delle Grazie e explica: "É aqui que fica o Cenacolo". Ele disse "Cenacolo", como os italianos, e não "Santa Ceia", como os brasileiros se refeririam à célebre obra de Leonardo da Vinci. Mais adiante, num restaurante, Kaká explicou que todos os cardápios sugerem uma entrada, depois um primo piatto, depois um secondo, mas que não se é obrigado a comer tanto. Por toda parte ele era saudado efusivamente. Movimentava-se pela cidade com a desenvoltura de quem nasceu lá.

A fuga dos jogadores brasileiros para o exterior decorre de circunstâncias em parte inevitáveis e em parte evitáveis. A parte inevitável é a atração de mercados futebolísticos milionários como os da Espanha, Itália, Inglaterra e Alemanha. Mas há bons jogadores brasileiros atuando até na Ucrânia e na Turquia. Isso tem a ver com a parte evitável. Se o futebol brasileiro fosse mais bem administrado, e mais honestamente, os clubes teriam força para defender seus jogadores, pelo menos, do assédio turco ou ucraniano. A soma dos fatores inevitáveis com os evitáveis empurrou o país para a condição de exportador de matéria-prima. Da mesma forma como nos tempos coloniais éramos exportadores de cana-de-açúcar ou de ouro, hoje somos de futebolistas. O Brasil regrediu gostosamente à condição colonial – claro que com grandes lucros para muita gente, senão não seria assim.

Os jogadores são produtos dessa situação. Os mais festejados, como os da seleção, cercados de atenções e do conforto que a boa remuneração proporciona, acabam por se dar tão bem no novo ambiente que o antigo fica lhes parecendo um castigo. Ronaldo já avisou que ao deixar o futebol continuará a viver na Europa. Ele se acostumou, e não agüentaria mais morar no Brasil.

Nada contra, nem ao dinheiro que ganham, nem ao modo de vida. O dinheiro eles têm mais é que ganhar mesmo, estrelas de primeira grandeza de um espetáculo de massa que são. Quanto ao modo de vida, nada mais justo do que, para usar o mais simples dos argumentos, querer viver em lugares onde se circula à noite sem medo e se pode deixar a mãe em casa sem o risco de ela ser seqüestrada, como aconteceu com a mãe de Robinho em Santos. Mas que é estranho ter uma trupe de exilados como seleção, isso é. Eles cantarão o Hino Nacional e serão saudados com bandeiras verde-amarelas, mas para eles o Brasil é uma realidade distante, sem muito a ver com as questões do dia-a-dia.

447) Um novo candidato para presidente, mas ele não corre nenhum risco de ganhar...

Da coluna de Diogo Mainardi, na Veja, edição 1958, 31 de maio de 2006

Diogo Mainardi
Gabeira para presidente

"Ganhar ele não ganha. O que eu espero dele não é isso. O que eu espero dele é
que manifeste toda a minha repulsa por lulistas e oposicionistas"

Fernando Gabeira é meu candidato a presidente. O que falta agora é convencê-lo a se candidatar.

O primeiro contato não foi muito animador. Eu disse que votaria nele. Ele respondeu que só se candidataria se fosse para ganhar. Como assim? Ele quer ganhar? Ganhar ele não ganha. O que eu espero dele não é isso. O que eu espero dele é que manifeste toda a minha repulsa por lulistas e oposicionistas.

Na semana passada, Fernando Gabeira disse que se sentia frustrado "ao ver que os bandidos estão triunfando na vida pública". E concluiu: "Não rolei tanto barranco para entregar o ouro aos bandidos". Claro que rolou. Claro que ele terá de entregar o ouro aos bandidos. Como todos nós. Mas o tom de seu discurso está certo. O que Fernando Gabeira pode oferecer a mim e a um montão de gente como eu, durante a campanha eleitoral, é isso mesmo: um tantinho de teatro e um tantinho de demagogia, chamando sempre os bandidos de bandidos.

Os oposicionistas não entendem por que não conseguiram arrebanhar o eleitorado antilulista. Eles não conseguiram porque o eleitorado não é tonto e sabe perfeitamente que eles não são antilulistas. Como declarou Fernando Gabeira na última quarta-feira, o Congresso foi tomado por quadrilhas. Essas quadrilhas estão acima do interesse partidário ou ideológico. Diante delas, lulistas e oposicionistas se comportam de maneira igual. O caso da empresa do filho de Lula é emblemático. Os oposicionistas tinham a oportunidade de atingir diretamente o presidente, mas preferiram ignorar o assunto, porque suas afinidades com a Telemar acabaram prevalecendo.

Para conquistar o eleitorado antilulista, Fernando Gabeira terá de dar o passo que ele ainda não ousou dar. Ele chamou Severino Cavalcanti de bandido. Ele chamou Ney Suassuna de bandido. Ele chamou Romero Jucá de bandido. Ele chamou Natan Donadon de bandido. Ele só não chamou Lula de bandido. Estou aqui, esperando.

Há também a questão do táxi. Fernando Gabeira lembrou que, em sua campanha para o governo do Rio de Janeiro, em 1986, ele não tinha dinheiro nem para o táxi. Respondi que era melhor ficar sem táxi. Das duas, uma: ou o candidato rouba e toma táxi, ou não rouba e não toma táxi. Fernando Gabeira não rouba. Por isso é meu candidato. Então não pode tomar táxi. Ele concordou comigo.

Fernando Gabeira apoiou Lula na campanha presidencial de 2002. Eu não. Fernando Gabeira foi contra a CPI dos Bingos. Eu não. Fernando Gabeira foi contra a guerra no Iraque. Eu não. Fernando Gabeira se preocupa com o acúmulo de nitrogênio no solo. Eu não. Mas não importa o que ele pensa. Fernando Gabeira é o único político que ainda pode dar algum sentido à disputa eleitoral, representando a recusa de uma parcela do eleitorado em aceitar calada essa bandidagem tão rudimentar.

Eu apóio Fernando Gabeira para presidente. Meu maior temor é que ocorra um acidente e ele seja eleito. Um candidato só é realmente bom se a gente sabe que ele nunca poderá ganhar.

sábado, maio 27, 2006

446) Nosso crédito na região está baixando...

Recebido de uma dessas correntes que nunca se sabe como ou onde começam e onde podem terminar (aparentemente elas dão a volta ao mundo e lhe chegam novamente meses depois).
Transcrevo, sem qualquer comentário adicional, a não se o do título: já fomos melhor apreciados na região...

Los Problemas de Brasil.
"Los problemas de Brasil son dos (2):
los externos y los internos.
Los externos son Morales y los internos son Inmorales."

445) Pausa para humor (o do momento...)

Diferenças entre Presídio e Trabalho
(poucas, mas significativas...)

PRESÍDIO
Você passa a maior parte do tempo numa cela 5x6m.
TRABALHO
Você passa a maior parte do tempo numa sala 3x4m.

PRESÍDIO
Você recebe 3 refeições por dia.
TRABALHO
Você só tem uma, no horário de almoço, e tem que pagar por ela.

PRESÍDIO
Você é liberado por bom comportamento.
TRABALHO
Você ganha mais trabalho com bom comportamento.

PRESÍDIO
Um guarda abre e fecha todas as portas para você.
TRABALHO
Você mesmo deve abrir as portas, se não for barrado pela segurança por ter esquecido o crachá.

PRESÍDIO
Você assiste a TV e joga.
TRABALHO
Você é demitido se assistir a TV e jogar.

PRESÍDIO
Você pode receber a visita de amigos e parentes.
TRABALHO
Você não tem nem tempo de lembrar deles.

PRESÍDIO
Todas as despesas são pagas pelos contribuintes, sem seu esforço.
TRABALHO
Você tem que pagar todas as suas despesas e ainda paga impostos e taxas reduzidas de seu salário, que servem para cobrir despesas dos presos...

PRESÍDIO
Algumas vezes aparecem carcereiros sádicos.
TRABALHO
Eles usam um nome específico: Gerente, Diretor, Chefe...

PRESÍDIO
Você tem todo o tempo para ler piadinhas de e-mail.
TRABALHO
Ah, se te pegarem...

sexta-feira, maio 26, 2006

444) Imigracao nos EUA: duas leis em 82 anos

Hoje, 26 de maio, meu programinha de "Today in History" indica o seguinte:

1924 President Coolidge signs Immigration law: restricting immigration

Pois hoje, 26 de maio de 2006, o Congresso americano aprovou uma nova lei de imigração, confirmando uma abertura relativa aos milhões de imigrantes que ainda querem fazer a América. Em 1924, 82 dois anos atrás, a intenção era restringir a entrada de "amarelos", ou seja asiáticos (chineses e japoneses). Hoje, os que batem às portas são basicamente latinos...

443) O Iraque no caminho da Argelia?

A Argélia entrou, nos anos 1990, numa vertigem louca de assassinatos gratuitos, motivados por fundamentalismo religioso, ensanguentando o país durante muitos anos, e motivando uma repressão brutal por parte das forças de segurança que deixou cicatrizes até hoje.
A notícia abaixo seria patética, se não fosse terrivelmente triste e dramática:

Tenistas são assassinados por usar bermudas no Iraque

O treinador da equipe iraquiana de tênis, Ahmed Rashid, e os jogadores Nasser Ali Hatem e Wissam Adel Odah foram assassinados a tiros na ontem, em Bagdá, porque estavam usando bermudas, informou hoje o Comitê Olímpico Iraquiano.

26/05/2006

Alguns dias antes, um grupo radical islâmico sunita havia ameaçado os homens iraquianos que usassem calças curtas nas ruas. Testemunhas disseram que os jogadores foram atacados quando deixavam, de carro, uma lavanderia.
"Dois deles levaram os tiros quando forçados a sair do automóvel e o outro foi assassinado dentro do veículo. Eles levaram o carro, depois de tirar o cadáver", disse uma testemunha que não quis identificar-se.
Hoje, atentados contra mercados em Bagdá mataram pelo menos 18 pessoas e feriram mais de 60. Também na capital, um grupo armado invadiu ontem uma festa de casamento e seqüestrou o noivo, dois de seus parentes e um convidado. Os corpos, decapitados, foram achados hoje numa área rural da cidade.

442) Uma entrevista com Adam Smith, himself...

Prospect Magazine (UK, nb. 123, June 2006)
link: http://www.prospect-magazine.co.uk/article_details.php?id=7484

Interview: Adam Smith
by Iain McLean
The author of the Wealth of Nations, back in Glasgow for a university fundraiser, has some surprising ideas on international development, taxation and the role of the state
Iain McLean's book Adam Smith: Radical and Egalitarian, which includes a foreword by Gordon Brown, will be published by Edinburgh University Press on 15th June 2006

The scene is a fundraising event in Glasgow University. The canapés and conversation are flowing freely in the Hunterian Museum. The dean of the faculty of social sciences is talking to Adam Smith (professor of logic 1751-52; of moral philosophy 1752-64). Iain McLean is eavesdropping behind a display case, which houses the model Newcomen engine that James Watt (mathematical instrument-maker in the department of natural philosophy, 1757-64), was asked to repair.


Dean: Welcome Dr Smith! We are always pleased to see our distinguished former staff returning. Indeed, we are so proud of you that we have named one of our buildings the Adam Smith Building…

Adam Smith (AS): I’ve seen it. A pity my boyhood friend Dr Robert Adam, of Kirkcaldy, did not build it. He designed the main Quadrangle of the College of Edinburgh.

Dean: Yes, well, you know, funding councils, cost limits…. (Brightly, pointing to the display case) But have you seen this? This was the engine that Dr Black asked Mr Watt to repair. Mr Watt found out that the design was faulty; Dr Black applied the theory of latent heat; Mr Watt invented the separate condenser—and the rest is history.

AS Indeed. Dr Black was one of my dearest and most trusted friends. I asked him to destroy all my manuscripts on my death. And Mr Watt was a most ingenious Mechanick. In my History of Astronomy, which was one of the few relics I authoris’d Dr Black and Dr Hutton to publish after my demise, I wrote that all of philosophy follows from wonder, surprise, and admiration. So it is as much with the Theory of Moral Sentiments of which I wrote, as with the Natural Philosophy which Mr Watt practised.

Dean. Yes, such a shame we couldn’t enter James Watt in the Research Assessment Exercise (RAE). Trouble is, we hadn’t sorted out intellectual property in those days and we let him set up his own spinoff company. Boulton & Watt. It should have been Glasgow University Innovation Ltd. And, of course, strictly speaking he was a lab technician, not a member of the academic staff.

AS But Mr Watt was an ornament of our Scotch system of education. I had much to say of its Superiority to the English. I was six Years in Oxford: to what end? In the university of Oxford, the greater part of the publick professors have, for these many years, given up even the pretence of teaching. In the Scotch universities, the publick professors took a fee from their students. That requires the professors to attend to their duties, and to instruct the young. In Scotland the establishment of the parish schools has taught almost the whole common people to read, and a very great proportion of them to write and account. In England, ‘tis not universally so. Mr Watt attended the grammar school at Greenock, as I attended the burgh school in Kirkcaldy….

Dean But as we were speaking of the RAE, forgive me a rather delicate question. You wrote two distinguished books: the Theory of Moral Sentiments and the Wealth of Nations. But why only two? Why did you never publish your theory of jurisprudence?

AS In my private Lectures on Rhetoric and Belles-Lettres, I attempted to lay down the principles of good English style. Like my friend Mr David Hume, I view’d the style of the Scots, before our Union of the Year 1707, as somewhat uncouth, and I advocated a clear and correct English style. My work was slow because it underwent many careful revisions. Indeed I fear it is too subtle for some. In my Moral Sentiments I wrote that the rich are led by an invisible hand to make nearly the same distribution of the necessaries of life, which would have been made, had the earth been divided into equal portions among all its inhabitants, and thus without intending it to advance the interest of the society. Now, some have held this “invisible hand” to be the epicentre of my system, when ‘twas but a passing remark. I expected my readers to understand it as a reference to such Satire as Mr Mandeville’s Fable of the Bees. But some of my readers, it seems, are more solemn than I.

Dean But what about the Theory of Jurisprudence?

AS. There I confess to some caution. You recall that in the year 1776, there was a revolt among our American Colonists; which, being mishandled, led to their departure from the Empire. Shortly afterwards followed the events in France, that were proceeding as I rewrote my Moral Sentiments in 1790. Some in Scotland fear’d that a great and riotous Democracy was breaking out in France, which they blamed on the principles of the inoffensive political economist M Turgot (whom I knew) and his followers such as the eminent Marquis de Condorcet and others. Should I be associated with these principles, I might suffer as did my friend Mr Dugald Stewart. Mr Stewart found Lord Craig—one of our Lords of the Court of Session in Scotland—most overbearing. When Mr Muir of Huntershill was transported to Botany Bay for 14 years for espousing the principles of my work, my lord Craig forced the inoffensive Mr Stewart to recant publickly of his approval of the M. de Condorcet, &c. When Mr Stewart read an account of my life to the honourable the Royal Society of Edinburgh, he was at pains to stress my blameless and conventional opinions. From that seed grew all subsequent estimates of me. They misread my Wealth of Nations, failed to read my Moral Sentiments, and knew nothing of my Jurisprudence.

My Jurisprudence sought to establish the first principles of government. My private Opinions were of a more radical cast than those I suffer’d to be publish’d—in matters of religion and of the colonists of America. So I instructed Dr Black and Dr Hutton that my Lectures on Jurisprudence were to be burnt on my demise.

Dean Dr Smith, let me surprise you. They were not destroyed as you thought. Two of your students took copious notes. One set was rediscovered in 1895, and another in 1958. They relate to the course as you gave it in two successive years. By comparing the two, we know that you said the same things, although in a different order, in these two years. I knew all along what your Jurisprudence says. It helps to show that the private Adam Smith indeed differed from the ultra-respectable anti-revolutionary portrayed by Dugald Stewart and by all other biographers until recently.

AS Wonder, surprise, and admiration indeed! Well, I am now beyond the reach of those who attacked my Eulogy of Mr Hume. A single, and as I thought a very harmless Sheet of paper, which I happened to Write concerning the death of our late friend Mr Hume, brought upon me ten times more abuse than the very violent attack I had made upon the whole commercial system of Great Britain. I had but reported that Mr Hume died as noble a death as Socrates, yet that he took comfort not from the ministers of the Kirk but from Lucian’s Dialogues of the Dead. Can you then wonder that I was so circumspect in matters of religion and of the foundations of government? In my circumspection I differ’d greatly from Mr Hume; in my principles I differ’d little.

Dean And yet you have good things to say of the presbyterian churches. In the Wealth of Nations you say, “There is scarce perhaps to be found any where in Europe a more learned, decent, independent, and respectable set of men, than the greater part of the presbyterian clergy of Holland, Geneva, Switzerland, and Scotland.”

AS Sir, I said “the greater part.” I pointed out that the universities of Scotland, a land where the church has but modest revenues, are filled with the most eminent men of letters; those in a land where the church has very great wealth, are not (of course I meant Oxford, but left that to be inferr’d by the subtle Reader). I believe that the Church of Scotland brought great good to the government, if not to the religion, of our country. Mr Andrew Melvill, the author of our Second Book of Discipline, in the year 1596 told King James VI that he was but “God's sillie vassall.” In the kingdom of “Chryst Jesus the King, whase subject King James the Saxt is,” there were no lords or heads, but only members. The establish’d Kirk in Scotland, and its counterparts in Holland, Geneva, &c, teach that all are equal in the sight of God. We have no Bishops, and His Majesty the King is not the Supreme Governor of our Kirk. The equality of all mankind is a sound basis of Government.

In my Moral Sentiments, I seek a grounding for morality in sympathy. By that I do not mean that all men sympathise with one another: ‘tis patent that they do not. I mean that, in order to understand what a moral sentiment is, a man must be capable of understanding the world as it appears to another.

Dean Then you’d love The Curious Incident of the Dog in the Night Time. The author brilliantly sees the world through the eyes of someone who is incapable of seeing the world through the eyes of anyone else.

AS I dare say. In my time, Mr Robt. Burns expressed it in the Vernacular. I never met him, but sought for him a task, as Salt Officer at 30L per annum, to support his literary endeavours. Have you read his poem in the Scottish dialect, “To a Louse”? After insulting the Louse for many lines, he turns of a sudden, and in a chang’d style he says, O wad some Pow’r the giftie gie us / To see oursels as ithers see us! / It wad frae monie a blunder free us / An’ foolish notion. Mr Burns had well studied my Moral Sentiments.

Dean But some say that the Moral Sentiments and the Wealth of Nations are incompatible: that the first postulates a world based on sympathy; the second, a world based on self-interest. Our chancellor of the exchequer, Gordon Brown—a Kirkcaldian like yourself, you know—has recently extolled your work in many speeches. He said that surely your two books are compatible, and that those who saw you as an apologist for ruthless capitalism were just mistaken.

AS My work is all of a piece. But what is this “capitalism”?

Dean Herr Dr Karl Marx, of Trier, believed that capitalism was evil, because owners of capital stole all the value created by labour beyond the minimum needed to keep the labourer alive; and that the effect of repetitive manual work—such as the pin factory you describe in the Wealth of Nations—deadened the imagination. He called that alienation. But he believed that in time those labourers would unite to overthrow capitalism in favour of socialism…

AS Socialism—pray, what is that?

Dean For Marx, it was a world in which to each according to his needs, from each according to his ability. Marx had quite a high regard for your work, by the way. He believed that his work on the labour theory of value built on your foundations.

AS Ah, that was the most uncertain part of my book. I fear I express’d myself unclearly. But I spoke very clearly of this alienation tho’ I did not use that word. ‘Twas I who said that the hands in the pin factory, tho' they be richer than their grandfathers who made everything they needed at home, might find their minds stunted by the monotony of their work. So it is right that they should be taught in publick Schools, not only to read and account, but also to a broader Understanding. And as to the masters stealing from their men, I observ’d, that when the magistrates make orders for the regulation of Wages, or the settlement of the poor, their instructors are always the masters and never the men. But, pray, how did Herr Dr Marx say that needs were to be assessed; and how would he discipline such as failed to deliver according to their ability? The publick professors of Oxford are no doubt able men.

Dean Not my field I’m afraid. We used to have professors of Marxist economics who could have answered that for you. Marxist economics were very popular in the 1930s, when we had massive unemployment here on Clydeside. Then along came John Maynard Keynes with another answer. He argued that the government should stimulate the economy during a depression by spending on public works….

AS Publick works! A road to let the people of Glasgow reach Edinburgh with expedition would be fine, but persons of Quality sometimes prefer the Ornamentall to the Usefull. I observ’d in my book, that many great works are done for the Ostentation and Pride of them that pay for them: which is well if they pay out of their own pockets, but not if they pay out of others’. The late Duke of Marlborough was rewarded for his Victories, by the grant to him of Blenheim-Palace near Oxford. I hear it has a great Bridge which goes from nowhere to nowhere; if paid for by his Grace, well and good, but I fear it was funded from the Taxes and Imposts of Great Britain. I wonder how Mr Keynes would ascertain, whether publick Works were truly for the Publick, or for those who ordered them at the expence of the Publick?

Dean But surely you approve of some public works—for instance, supporting the infrastructure of the poorest communities—such as the Highlands of Scotland or tropical Africa. The prominent economist Jeffrey Sachs has pointed out that India, which has recently started to grow rapidly, has a legacy of good railways and acceptable roads from the days when it was ruled by the British, but most of Africa has not. He wants aid donors to choose six well-governed countries in Africa, and focus infrastructural aid on those countries.

AS Misplac’d Benevolence, tho’ it do not harm, may do no good either. A young man, Mr Wilberforce, who is very warm in opposition to the detestable, and inefficient, practice of Slavery in our Colonies, requested my support for a Scheme to relieve the destitution of the Highlands by a Society to promote the Fisheries there. I told him that the scheme would likely result in the total loss of the Promoters’ money; but at least it was their own money, not drawn from the publick Coffers.

Dean Well, the governments of the world used to support big dams and airports in Africa, but now they go on about much more intangible things like “good government.” It all makes me a bit uneasy. Some people call it the “Washington consensus.” I would rather they just forgave all the unrepayable debts of African governments.

AS But good government is the foundation of opulence. Bad government is, as I said in my book, a conspiracy of shopkeepers against their customers. I should be loath to relieve the debts of bad governments, lest they incur more, unless we could bind them with promises of amendment. And as to the debts of private parties, it is not for the Magistrate to meddle. The rules of prudence caution each (as Mr Hume said) to suppose that each other is a knave in his private business.

Dean Do you mean that we should turn our backs on the poor of Africa? Especially when some people say that it is free trade that has caused their poverty?

AS How free trade can cause poverty, I know not. If trade be free, then no trader has any motive to trade, save that he thinks the trade will make him better off. In a free trade, an effectual combination cannot be established but by the unanimous consent of every single trader, and it cannot last longer than every single trader continues of the same mind. But trade with Africa, the Indies, &c, was no wise free in my day. The whole commercial system of Great Britain depended on the license given to the East India Company to hold a monopoly of trade to our Colonies, both tropical and temperate. That enriched the monopolists, and impoverished all other parties. Do the people of Africa yet suffer from monopolists?

Dean Gordon Brown is one of those who say that they do. The rich countries of the world subsidise their agriculture so heavily that the market is rigged against Africa. The US spends more in subsidising its own cotton producers than on aid to Africa; Japan subsidises home rice production; Europe subsidises a wide range of farm produce.

AS Are they produced cheaper and better there than in Africa? If so, they need no subsidy; if not, then subsidy is waste. By means of glasses, hotbeds and hotwalls, very good grapes can be raised in Scotland, and very good wine too can be made of them at about 30 times the expence for which at least equally good can be bought from foreign countries. Would it be a reasonable law to prohibit the importation of all foreign wines, merely to encourage the making of claret and burgundy in Scotland? Or cotton in the American Colonies, or rice in Japan?

Dean But when you say that the government should not meddle in private affairs, isn’t that an endorsement of ruthless capitalism, whether of companies trading abroad or at home?

AS But what is this “government”? It is not from the benevolence of the butcher, the brewer, or the baker, that we expect our dinner, but from their regard to their own interest. Likewise, we should not rely on the benevolence of the government for our dinner. Government, in Great Britain, is but the private interest of landowners, and of corporations of merchants. People of the same trade seldom meet together, even for merriment and diversion, but the conversation ends in a conspiracy against the publick, or in some contrivance to raise prices.

Dean You sound so 20th century. This is the theory of rent-seeking, no less, although that phrase was not invented till 1974. You are saying that markets should allocate most goods, because they do so more efficiently and fairly than governments, but that government should intervene when the market fails…

AS Yes, I do not say that government should not enter the lives of the people. The first necessity, is to provide for the Defence of the people. The second, is for publick Works, and publick Institutions. However, it does not seem necessary that the expence of those publick works should be defrayed from the publick revenue. The greater part of them, as a highway, a bridge, or a navigable canal, may easily be managed, so as to afford a particular revenue sufficient for defraying their own expence, without bringing any burden upon the general revenue of the society.

Dean The more we talk, the more you sound like our New Labour government—especially Gordon Brown! You are speaking now of what we call the provision of public goods in the face of market failure—but of public provision by means of a private finance initiative. Brown endorsed this, with sidelong references to you, when he lectured to the Social Market Foundation a couple of years ago.

AS The Social Market Foundation—I like that name. It respects both the theory of moral sentiments and the origins of the wealth of nations.

Dean I’m coming to think that we have gone 200 years without understanding what you wrote. The age of laissez-faire…

AS I never used that phrase, but I heard it in Toulouse—coined by one of the Associates of M Turgot.

Dean Well, you have always been hailed as its apostle—for free trade and limited government. That world ended in 1914, and seemed dead until Mrs Thatcher tried to revive it in 1979.

AS Did she study my Work?

Dean She once said “the Scots invented Thatcherism.” I think she meant you, not David Hume. But I don’t think she read your Moral Sentiments. She also once said “there is no such thing as society.” Her allies founded the Adam Smith Institute to promote your ideas. Let me show you their website—I will explain later how our modern Mr Watts have made such a thing. They quote you as saying: “Little else is requisite to carry a state to the highest degree of opulence from the lowest barbarism, but peace, easy taxes, and a tolerable administration of justice; all the rest being brought about by the natural course of things.”

AS But that was in the Year 1755, before I first wrought my three books. “All the rest” is much too strong, as you may see from my remarks on government in my Jurisprudence and Wealth of Nations. And “easy taxes” does not mean the same as “low taxes.” I set out some maxims of taxation….

Dean I know. Gordon Brown said he had them before him as he prepared his 2002 budget.

AS … which say that taxes must be easy to collect and not arbitrary. They also say that the subjects of every state ought to contribute towards the support of the government, as nearly as possible, in proportion to their respective abilities; that is, in proportion to the revenue which they respectively enjoy under the protection of the state. As the protection of the state is equally available to all, and the rich enjoy more revenue than the poor, it follows that the rich must pay more tax than the poor. Especially should those who receive ground rent pay, as that receipt owes nothing to either their Ability or their Industry, and everything to the protection of the state.

Dean I had no idea that you favoured “progressive” taxation, where the rich, or some of them, should pay a higher proportion of their income in tax than the poor. That puts you on what we now call the political “left,” not the “right” of Mrs Thatcher and the Adam Smith Institute.

AS So the Opposition was truer to my Ideas, than the Ministry of Mrs Thatcher?

Dean I’m afraid not, or not till recently. You see, everybody believed Dugald Stewart’s picture of you: that you were a friend of the established authorities, and just asked for business to be let alone.

AS That is wondrous indeed: did they not understand my sarcastick comments about a government influenced by shopkeepers?

Dean Unfortunately, your remarks have been garbled by inaccurate repetition—and most people think Napoleon Bonaparte said it, not you. The Opposition to Mrs Thatcher was the Labour party. They are now in government.

AS I hope they understood that I am a warmer friend of the Artisan than of the Merchant or of the Landowner.

Dean Unfortunately, no. They believed in extensive government ownership of industry, and in a planned economy—that is what they sometimes called “socialism” and sometimes “Keynesianism.” These ideas came partly from your selective admirer Dr Marx, but more from the observed failure of capitalism in the 1930s, when unemployment soared.

AS Because of a contrivance to raise prices or a conspiracy against the public?

Dean In a way, yes. The stock market crashed in 1929 but the real damage came later, when governments in all the industrial countries tried to protect their domestic industry from the slump by excluding imports. That made the slump much worse. Governments are still at it—the French government is doing it right now. It is protecting vital national industries such as gas, aeroplanes and yoghurt.

AS Ah, the policy of M Colbert, so roundly denounced by M Turgot. Is M Turgot as little honoured in his land as I in mine?

Dean Perhaps. When one side cries “protection” and the other cries “socialism,” neither is paying much attention to you.

AS The Labour Party of which you speak—are they still for this “socialism”?

Dean The prime minister, Tony Blair, never speaks of it. Brown quite often does. When they were in opposition, Blair agreed to give Brown a free hand over the economy. Some say he promised to hand over to Brown within ten years. His friends deny that. But he has promised to resign before the next election.

AS But if ‘tis common knowledge that he will go, assuredly he must be as powerless as my Lord North after the loss of the American Colonies, when power trickled down to my friend Mr Wedderburn, whom I advised.

Dean Maybe, but Mr Brown has many enemies in his own party. He has done much that they all like. He has given independence to the Bank of England…

AS But banks can be wondrous imprudent, as the Ayr Bank, of whose collapse in 1772 I wrote at length…

Dean …I am sure that Gordon “Prudence” Brown knows that. So far, his bank regulation, and his prudent fiscal rules, have worked very well.

AS Why then do his own partisans mislike him?

Dean Some hark back to “tax and spend” socialism and complain about his niggardly attitude to benefits, and his refusal to recreate the nationalised industries of the past.

AS But, as I wrote, publick Works and Institutions should be in the hands of those with a motive to provide ‘em efficiently.

Dean Mr Brown agrees with that, but his followers in the trade unions—the “combinations” of your day—don’t like it. Also, some say that he has forgotten his Adam Smith.

AS How so?

Dean He has fallen out with Lord Turner, who suggested a national savings scheme to finance future pensions—that is, provision for the aged poor. Lord Turner believes in raising universal benefits. Mr Brown says that is expensive and unaffordable, and prefers to support the poor by targeted benefits.

AS But if the poor know that they will be paid whether they save or no, they will not save. The professors of Oxford, who were paid whether they taught or no, did not teach. The professors of Glasgow, who were paid only if they taught, taught well.

Dean That is Lord Turner’s objection. He may be truer to you than Mr Brown. But I assure you, you would get on very well with Mr Brown. He comes from your town and he agrees with you about plain clothes. Do you know, he refuses to dress up for the Lord Mayor’s banquet?

AS Kirkcaldy is a plain place, where luxury may benefit the artisan, but confers no grandeur on the wearer. Mr Burns, the Exciseman from Dumfries, was a warmer enthusiast than I for the late events in France. But I think well of his poem, with its fine tune. What though on hamely fare we dine…

Dean Wear hoddin grey, an’ a’ that…

Both Gie fools their silks, and knaves their wine / A man’s a man for a’ that.

They go out arm in arm, singing Burns’s poem. Some prosperous alumni look at them in bemusement over their half-empty glasses of wine.

quinta-feira, maio 25, 2006

441) Brevíssimo itinerário das Relações Internacionais enquanto disciplina acadêmica

Ofereço uma interpretação pessoal de como vejo a evolução conceitual das relações internacionais enquanto disciplina acadêmica ao longo do século XX. Trata-se, tão somente, de um simples rascunho, ou de um “outline”, com os principais “headlines” dos temas que me parecem devam ser estudados pelos especialistas nessa área. Para desenvolvimento futuro, assim que possível...

1) Pré-história: Da política de poder ao poder da política (1919-1939
Trabalhos pioneiros a partir do impacto das propostas wilsonianas sobre o sistema internacional, rompendo a visão tradicional da política de poder tal como praticada pelas potências européias.
Destaque acadêmico a ser dado ao trabalho de Edward Carr, Twenty Year’s Crisis

2) Emergência da disciplina: Refletindo as realidades da Guerra Fria (1945-1962)
Definição das grandes linhas de pensamento estratégico, segundo a escola realista de relações internacionais.
Obra definidora: Hans Morgenthau: Politics Among Nations

3) Afirmação e triunfo: A batalha entre realistas e institucionalistas (1962 até hoje)
Refinamento teórico, desenvolvimentos metodológicos e divisão entre escolas de pensamento, com aprofundamento das análises segundo linhas dotadas de maior rigor metodológico com os fundamentos empíricos da análise em RI
Obras muito diversas e importantes, com destaque para os neo-realistas e outros representantes do velho e novo institucionalismo (Kehoane, Nye, etc)

4) Disseminação na periferia: convertidos e produtores no Brasil (das origens até hoje)
Estudos sobre desenvolvimento econômico e elaboração de teorias sobre a dependência na América Latina, com base na produção original de Raul Prebisch. Teoria da dependência (FHC. Theotônio dos Santos), sub-imperialismo brasileiro (Ruy Mauro Marini) e a construção de diferentes correntes de pesquisa, que não chegam até o momento a conformar escolas de pensamento; existem esforços interpretativos e construções independentes, com destaque para vários acadêmicos trabalhando de forma autônoma, sem modelos teóricos muito bem determinados.
Obras vem sendo acumuladas entre acadêmicos e profissionais da diplomacia, principalmente nos grandes centros de produção: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e alguns outros centros...

5) Hegemonismo e anarquia internacional: uma transição para o quê, mesmo? (hoje)
Tendências unilateralistas e neoimperialistas, com acadêmicos justificando o unilateralismo e a arrogância imperiais, como obras úteis para a estabilização e a paz no mundo; o Brasil também tenta se inserir nesse mundo, mas o suporte teórico não está muito claro, com acadêmicos do pensamento nacionalista tradicional dando suporte teórico aos novos praticantes da diplomacia.
Obras emblemáticas de: Niall Ferguson e Francis Fukuyama.

Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Brasília, 25 de maio de 2006

quarta-feira, maio 24, 2006

440) O "fome zero" da equipe canarinho...

Acho que ele tem razão...

Da coluna de No Mínimo, 24 de maio de 2006:
Guilherme Fiuza

Adeus, hexa
O jogador tem que ir na bola como quem vai num prato de comida, dizia João Saldanha. A seleção brasileira vai à Copa empanturrada, rica e entediada, falando em “dar espetáculo”. Está pronta para a derrota.

439) Terceirizando Mister Chavez para o cinema?: outra boa ideia...

Do site da revista Foreign Policy, em 23 de maio de 2006:

And Starring Hugo Chavez as Himself

Yesterday, Venezuelan President Hugo Chavez announced that he has given his approval to the production of a film by Oliver Stone documenting the events of the 2002 coup that briefly deposed him from power.

Stone, no stranger to the political film, has taken on such controversial figures as Fidel Castro, Yasir Arafat, and Richard Nixon and intense political events as JFK’s assassination and the World Trade Center attacks (upcoming).

In the past Stone has also produced chilling accounts of the corrupting effects of power, including Wall Street and Scarface (screenplay), but given Stone’s political leanings and sympathetic stance toward leftist politicos (as well as Chavez's conditional stamp of approval), viewers are likely to see narrative that glorifies Chavismo and discredits his opponents. The real question is whether the film will be more Viva Zapata! or telenovela.

UPDATE: Stone says Chavez is full of bull and that he has no such plans for a movie.

438) Terceirizando Mister Bush (uma boa ideia...)

Eu também acho que seria mais prático, e mais barato, terceirizar a presidência dos EUA, sobretudo nas condições atuais: um tremendo déficit orçamentário, uma irresponsabilidade fiscal a toda prova, uma incapacidade de definir uma agenda coerente de política externa e, sobretudo, uma tremenda dificuldade em compreender o mundo...

OUTSOURCING, THE ULTIMATE SOLUTION

Congress today announced that the office of President of the United States of America will be outsourced to India as of May 26th, 2006.

The move is being made to save the President's $500,000 yearly salary, and also a record $521 trillion in deficit expenditures and related overhead the office has incurred during the last 5 years.

"We believe this is a wise move financially. The cost savings should be significant," stated Congressman Thomas Reynolds (R-WA). Reynolds, with the aid of the Government Accounting Office, has studied outsourcing of American jobs extensively. "We cannot expect to remain competitive on the world stage with the current level of cash outlay," Reynolds noted.

Mr. Bush was informed by email this morning of his termination. Preparations for the job move have been underway for sometime.

Gurvinder Singh of IndusTeleservices, Mumbai, India will be assuming the office of President as of June 1, 2006. Mr. Singh was born in the United States while his Indian parents were vacationing at Niagara Falls, thus making him eligible for the position.

He will receive a salary of $320 (USD) a month but with no health coverage or other benefits. It is believed that Mr. Singh will be able to handle his job responsibilities without a support staff due to the time difference between the US and India, he will be working primarily at night, when few offices of the US Government will be open. "Working nights will allow me to keep my day job at the Dell Computer Call Center," stated Mr. Singh in an exclusive interview. "I am excited about this position. I always hoped I would be President."

A Congressional spokesperson noted that while Mr. Singh may not be fully aware of all the issues involved in the office of President, this should not be a problem because Bush was not familiar with the issues either.

Mr. Singh will rely upon a script tree that will enable him to respond effectively to most topics of concern. Using these canned responses, he can address common concerns without having to understand the underlying issues at all.

"We know these scripting tools work," stated the spokesperson. "President Bush has used them successfully for years."

Bush will receive health coverage, expenses, and salary until his final day of employment. Following a two week waiting period, he will be eligible for $140 a week unemployment for 13 weeks. Unfortunately he will not be eligible for Medicaid, as his unemployment benefits will exceed the allowed limit.

Mr. Bush has been provided the outplacement services of Manpower Inc. to help him write a resume and prepare for his up coming job transition.

terça-feira, maio 23, 2006

437) Relacoes da China com a America Latina

China's Relations with Latin America: Shared Gains, Asymmetric Hopes

On behalf of the Inter-American Dialogue, we are pleased to issue this new and comprehensive analysis of "China's Relations with Latin America: Shared Gains, Asymmetric Hopes," authored by a team led by professor Jorge I. Domínguez of Harvard University's Weatherhead Center for International Affairs. In this policy brief, Domínguez and his colleagues examine how China's role in the Americas has evolved over the decades, with a special emphasis on its bilateral ties with such key countries in the region as Brazil, Argentina, Chile, Mexico, Venezuela, and Cuba. China's increasing role in Latin America and the Caribbean has emerged as a central topic of interest for analysts, government officials, and corporate leaders engaged in Western Hemisphere affairs. Chinese presence and influence in Latin America has expanded rapidly during the past several years, and the region's leaders are seeking to better understand the challenges and opportunities presented by China as it assumes a new role as a rising global power. We will look forward to your reactions to the information and analysis presented in this report.

The original manuscript of this article was written at the request of Japan's Ministry of Foreign Affairs, and we are pleased to recognize its financial support for this project.

Please follow this link to view the report http://www.thedialogue.org/publications/2006/summer/china.pdf

Sincerely,

Peter Hakim, President
Dan Erikson, Senior Associate

segunda-feira, maio 22, 2006

436) Nascimento de um novo Estado: o Montenegro (os Balcans voltam a ser balcanicos...)

O Montenegro já foi uma nação independente, tendo sido depois unido ao reino dos sérvios e dos croatas, passando depois a constituir a República Federativa Socialista da Iugoslávia.
Depois do desmembramento desta última, o Montenegro ficou fazendo parte da federação da Sérvia e do Montenegro, que foi o que restou da antiga Iugoslávia, depois das secessões, mais ou menos traumáticas, da Eslovênia, da Croácia, da Macedônia e da Bósnia (dividida ainda segundo as linhas geograficas que separam as três principais comunidades, croatas, sérvios e "bosníacos", isto é, eslavos islamizados, com sua capital sofrida Sarajevo).
Agora é o Montenegro que se vai.
A Sérvia ainda conta com as províncias da Vojvodina, ao norte de Belgrado (depois do Danubio), com grande presença de magiares, isto é, húngaros, e com a província rebelde (e formalmente autônoma) do Kossovo, o berço do nacionalismo e da história sérvia, mas que hoje tem uma população majoritariamente albanesa e islâmica, o que obviamente não facilita as coisas.
Ou seja, em pouco mais de cem anos de história, os "Balcãs" voltaram a justificar o adjetivo geopolítico: ficaram novamente "balcânicos"...

Pro-Independence Movement Leads in Montenegro
By NICHOLAS WOOD
The New York Times, May 22, 2006

PODGORICA, Montenegro, Monday, May 22 — Voters in this small Balkan state decided in a referendum on Sunday to end their union with Serbia, according to results released by independent monitoring groups. If the official tallies later Monday confirm the results, the vote will break up all that remains of the Communist-era Yugoslavia.

The result was seen as a victory for supporters of Prime Minister Milo Djukanovic, who has led the drive for independence since 1997. But the announcement, which prompted celebrations throughout Podgorica, the capital, and surrounding areas, suggested that the margin was narrow.
The figures were released by two independent monitoring groups from the region, the Center for Monitoring and the Center for Free Elections and Democracy, based on results compiled in all 1,100 polling places. The groups stated that the measure had been carried, with 55.5 percent of the votes counted in favor of independence.
Under rules negotiated with the European Union, Montenegro's government agreed that it would have to win at least 55 percent of the vote for independence to be internationally recognized. The first official results were not expected until late Monday morning.
Despite the lack of official confirmation, thousands of independence supporters took to the streets, waving flags and signs. Fireworks and celebratory gunfire could be heard across the capital. Initial partial results gave the secessionist block a greater margin of victory, at 56.3 percent, but as the evening wore on that figure was gradually reduced and some of the celebrations became more muted.
In the euphoria, Mr. Djukanovic sought to unite Montenegrins after what had been a divisive campaign. "We have the right to celebrate in a dignified manner," he told a victory rally outside the main government building in Podgorica. But he said that nobody should be seen as winners after the vote. "This should be a comfortable home for everybody who lives in Montenegro," he said.
The leader of the pro-union opposition, Pedgrad Bulatovic, contested suggestions that the government had won, saying it was too early to draw a final conclusion about the vote.
Groups of young Serbian men gathered outside Mr. Bulatovic's headquarters in the city center, jeering as the referendum results were announced. "They are lying, lying, lying," they chanted, hurling abuse when pro-independence supporters drove by waving the Montenegrin flag. At least a third of Montenegro's 650,000 people are Serbs.
But the monitoring groups that provided the results said that they had counted 99.8 percent of the votes and that it was highly unlikely that the margin in favor of independence would be any lower in the final official results.
If the results are confirmed, Montenegro would be the last of the former Yugoslav republics to cut ties with Serbia, 15 years after the breakup began. Slovenia, Croatia, and Bosnia fought wars with Serbia in order to break away. Macedonia seceded in 1991 without any conflict.
Montenegro's secession would end what has become an increasingly fractious federation with Serbia, kept together by pressure from the European Union. Since 1997, Montenegro has sought to distance itself from the federal government in Belgrade, creating its own customs regime and paramilitary police. It has also dropped the Yugoslav currency, the dinar, and adopted the euro.
While diplomats and analysts here said the referendum would finally establish a clearer relationship between Serbia and Montenegro, the "yes" vote is also viewed as a personal blow to Serbia's nationalist prime minister, Vojislav Kostunica, at a critical time.
"Psychologically it is important for Serbia to stop the process of everybody seceding from Serbia," said Bratislav Grubacic, a political analyst and director of the VIP independent news agency, based in Belgrade. "This weakens Kostunica's position on Kosovo," he said, referring to the United Nations-run region that is still formally a province of Serbia, but that is thought likely by international officials to gain independence by the end of the year.
For supporters of Montenegrin independence, the results, however narrow, are the fruition of a decade-long struggle to enable Montenegro to reclaim its status from 1878 to 1918, when it was a republic and an internationally recognized state.
"This is a great day for the citizens of Montenegro to regain independence after 88 years," said Ljubomir Djurkovic, a theater director from Centinje, a picturesque, pro-independence town to the west of Podgorica. He said he planned mark the occasion by visiting the graves of his father and grandfather — men who spent their lives hoping for an independent state, he said, but who did not live to see it.

435) O paradigma vestfaliano: um excelente artigo


The Swearing of the Oath of Ratification of the Treaty of Münster
Pintor: Gerard Ter Borch, 1648
National Gallery, Londres

Gostaria de recomendar a leitura do excelente artigo que acaba de me ser enviado pelo professor de direito da Universidade Federal da Paraiba e doutorando em Coimbra, Marcílio Toscano Franca Filho, também Procurador do Ministério Público junto ao TCE/Paraíba e Legal Adviser da Missão da ONU para o Timor Leste.
Seu artigo, publicado na Revista de Estudios Politicos, do Centro de Estudios Politicos e Constitucionales de Madrid, trata da atualidade do paradigma estatal nascido nos Tratados de Paz de Westphalia (1648) e procura unir Direito, Relações Internacionais e Arte.
Faz parte integral do artigo o quadro acima reproduzido, mencionado pelo autor nas conclusões do artigo.

As referências completas para esse artigo são:

"História y Razón del Paradigma Westfaliano"
Revista de Estudios Politicos (Madrid: nueva época; nº 131, enero-marzo 2006, p. 87-11; ISSN: 0048-7694).

Consulte o artigo neste link:
http://www.pralmeida.org/06LinksColabor/MarcilioToscanoVestfalia.pdf

434) Diplomatas de pijama (nem por isso menos ativos...)

A ofensiva dos embaixadores
Jornal do Brasil, 21/05/2006

Eles têm em comum uma série de características: são profissionais experientes, competentes e de prestígio, não se filiam a partidos, trabalharam em diferentes governos, prestaram relevantes serviços ao país e, embora hoje aposentados, mantêm uma permanente atitude de respeito à casa de origem, em que se formaram e e à qual serviram por décadas: o Itamaraty.
De uns tempos para cá, esses embaixadores - pois é deles que se trata - passaram a exibir também um comportamento público similar: todos têm críticas à condução trapalhona da política externa do governo Lula.
0 recente passa-moleque do presidente boliviano Evo Morales, que estatizou as jazidas e a indústria de petróleo e gás do país e, pelo menos no momento inicial, deu uma banana à Petrobras e hostilizou abertamente o governo brasileiro, serviu como uma espécie de estopim. Então vieram à tona as opiniões desses respeitados diplomatas sobre os sucessivos tropeços da política externa de Lula em palestras - principalmente a empresários -, artigos e entrevistas.
Nessas ocasiões, vêm sendo objeto da atenção desses venerandos diplomatas, entre outros, os seguintes tópicos:
1) O esfarelamento do Mercosul, com a Argentina e o Uruguai se digladiando por causa da construção de duas fábricas de papel às margens do rio Uruguai, que Buenos Aires considera prejudicial à qualidade de águas compartilhadas, o Paraguai empreendendo uma aproximação militar com os Estados Unidos e o Uruguai pretendendo assinar acordo comercial em separado com Washington;
2) A falta de prioridade e o descuido na condução das relações estratégicas com a Argentina, que estariam em seu pior nível desde que, nos anos 80, os presidentes José Sarney e Raul Alfonsín promoveram o histórico ato de mútua renúncia a uma corrida nuclear;
3) 0 excesso de aproximação com o doidivanas presidente da Venezuela, Hugo Chávez;
4) A natureza e o grau de envolvimento do Brasil, e de tropas brasileiras, na tentativa de pacificação do Haiti; como nunca chegou em nível minimamente razoável o programa internacional de ajuda para reerguer o país destroçado por mini-guerras civis, o Brasil estaria colaborando apenas no papel de policia que, precariamente e debaixo de críticas constantes, as forças da ONU exercem;
5) 0 erro político e diplomático que foi, em ato inédito nos anais da política externa do país, o apoio explicito do presidente Lula a Evo Morales durante a campanha presidencial na Bolívia;
6) 0 excesso de concessões à China com a vã esperança, já varrida do mapa, de que o gigante asiático apoiasse a pretensão brasileira de ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU;
7) A ênfase às relações com países africanos, incluindo o perdão de suas dívidas para com o país, com o objetivo anterior incluído entre as metas a serem alcançadas -apenas para constatar depois que a África em peso deixaria de apoiar o Brasil na questão;
10) A derrota, previsível e embaraçosa, dos candidatos brasileiros à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e à presidência do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID).
Entre os críticos, estão figuras respeitadas como Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos e no Reino Unido, Marcos Azambuja, ex-embaixador na Argentina e na França, José Botafogo Gonçalves, experimentado negociador na área de comércio exterior, Rubens Ricupero, que foi embaixador nos Estados Unidos, ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e, até recentemente, secretário-geral da Organização das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), e Luís Felipe Lampreia, ex-embaixador em Portugal e em Genebra.
No caso de Lampreia, a atual direção do Itamaraty costuma lembrar que ele foi chanceler do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), como se isso lhe tirasse autoridade para fazer críticas. Mas não custa lembrar que o próprio chanceler Celso Amorim também serviu, no mesmo cargo de ministro, a um governo ao qual o PT, hoje no poder, se opunha: o do presidente Itamar Franco (1992-1995).
Amorim está irritado com as críticas. Já se queixou a respeito a pessoas próximas e, entre um e outro salamaleque diplomático, também deixou escapar seu aborrecimento em público.
Os embaixadores, porém, estão no seu direito - e no seu dever. Ao se manifestarem sobre o que consideram erros, trombadas e desmiolamentos da política externa, prestam mais um serviço ao país.

Ricardo A. Setti tem 59 anos de idade e séculos de sabedoria. Jornalista há 41, enriqueceu com a dose exata de talento e equilíbrio as principais redações do país. Dirigiu, entre outras publicações, a revista Playboy e o jornal 0 Estado de S. Paulo. Depois de passagens brilhantes por cargos de ponta no Jornal do Brasil, Setti volta agora à velha casa como colaborador. Os leitores merecem.

domingo, maio 21, 2006

433) O que se espera de uma dissertação de mestrado?

(como completar e sobreviver a esse exercício acadêmico)

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)


Para responder sinteticamente à pergunta do titulo, temos de primeiro nos colocar em ambos os lados da equação. Os professores do mestrado certamente esperam muito de uma dissertação: que os alunos façam um trabalho original, bem escrito, “novedoso”, que honre o curso e, sobretudo, a sua própria orientação e, talvez, que ela lhes tenha dado o mínimo de trabalho possível durante a pesquisa e a preparação. Quanto aos alunos do mestrado, bem, conforme a velha lei dos comportamentos inerciais (e também aquela do menor esforço), eles desejam, sobretudo, que a dissertação possa ser feita com o mínimo de trabalho possível, rapidamente, sem muita “chateação” do professor, e que a defesa possa se fazer en douceur, isto é, sem grandes sobressaltos em face da banca.
Estou exagerando, claro, e talvez sendo maldoso, pois acredito que a maior parte dos professores exerce seu trabalho consciensiosamente, assim como acredito que boa parte dos alunos trabalha seriamente seus projetos e a pesquisa e espera que o trabalho, uma vez concluído, possa lhes trazer algum benefício profissional, um engrandecimento cultural, quando não satisfação intelectual. Voilà, acho que fui mais justo desta vez.
Mas, deixando esses subjetivismos de lado, vejamos como poderíamos conceber um processo de preparação, de elaboração e de defesa de uma dissertação de mestrado que mantenha padrões aceitáveis de qualidade intrínsaeca e que guarde coerência com os propósitos e afinidade de espírito com o mestrado em questão. Eu começaria por sumariar o que me parecem ser os principais pontos a serem observados num processo de médio prazo como é o do mestrado acadêmico.
Formularei alguns comentários pessoais em função dos seguintes critérios: objeto, metodologia, desenvolvimento do trabalho, originalidade, finalidade ou “valor social”, bibliografia e processo de avaliação. Devo alertar, desde já, sobretudo em direção dos que podem pensar o contrário, que eu mesmo não me considero especialmente habilitado a realizar orientações. Espero ser corrigido e complementado nestes comentários pessoais por professores mais competentes do que eu na fina arte da orientação.

1. Objeto:
O mestrando deve, em pleno acordo com o seu orientador, definir o tema de sua dissertação dentro do campo de estudos coberto pelo mestrado em questão. O que dele se espera é que o objeto do trabalho de pesquisa cubra temas não corriqueiros, ou seja, que ele represente algum esforço próprio do mestrando em abordar seu objeto com alguma elaboração diferente daquela que existe na literatura da área. Não é necessário que o tratamento dado nas fases de pesquisa e de redação da monografia dissertativa ou que o objeto mesmo sejam totalmente originais ou inéditos, mas a dissertação tampouco pode ser uma compilação dos “text-books” ou dos livros mais conhecidos existentes na área.
A elaboração pode ser mais conceitual do que empírica ou de estudo de caso, mas as mesmas regras de cobertura da área e elaboração própria devem valer também para esse tipo de dissertação. Aliás, não existem regras pré-definidas quanto à maneira de se abordar qualquer objeto considerado válido ou pertinente para a dissertação: pode se ter um trabalho relativamente “estático” – de cobertura da legislação ou da situação existente numa determinada área na própria contemporaneidade –, um outro mais “evolutivo” – ou seja, historicamente linear ou recapitulativo –, ou ainda uma reflexão do autor quanto ao que ele considera uma “insuficiência” da literatura ou dos estudos de caso naquela área, que ele decide então completar por uma contribuição original com base em seu interesse pela questão. Todos os tipos de abordagem de um problema preciso são válidos, a priori.
O mestrando deve saber, em primeiro lugar, delimitar precisamente o seu objeto, “dialogar” com o tema, problematizando-o, para empregar um neologismo universitário. Não é necessário, em segundo lugar, que o mestrando ofereça todas as respostas que um determinado objeto suscita naquela área de estudos, mas ele deve poder oferecer, ao menos, todas as perguntas pertinentes que se impõem em face do objeto escolhido. Não há, tampouco, necessidade de que o tema seja absolutamente inédito no conjunto dos problemas “dissertáveis” normalmente contemplados num curso de mestrado, mas o mestrando não deve realizar uma mera síntese da literatura disponível. Certos “temas de fronteira” se prestam particularmente para um tratamento de tipo “exploratório”.
Como guia “estruturante” da apresentação inicial da problemática, o candidato pode se deixar guiar, onde couber, pelas famosas seis perguntas de todo jornalista: o que, quando, quem, onde, como e por que? A última pergunta também comporta uma espécie de rationale explicativa: afinal de contas, o esforço de reflexão crítica aparece como um componente indispensável de um curso de mestrado bem sucedido. Ele é a própria razão de ser de qualquer mestrado.

2. Metodologia:
Muito professores falam de um “marco teórico” como algo “indispensável” ao trabalho do mestrando, e com isso conseguem tirar várias noites de sono do candidato, que adentra na selva selvaggia da bibliografia pertinente – geralmente restrita a poucos “barões” da teoria em ciências humanas, de extração francesa ou alemã – em busca de algum enquadramento teórico para o seu objeto escolhido. A teoria certamente ajuda a pensar, mas ela não deve representar uma camisa de força, do contrário um candidato desprevenido, que pretenda, por exemplo, fazer uma dissertação sobre a informalidade laboral no Brasil, pode se interrogar sobre o que o inefável Foucault teria a dizer sobre isso. Não creio, pessoalmente, que o “marco teórico” deva ser um monstro metafísico que ameace engolir o candidato se ele se sentir desconfortável com o tal de “enquadramento conceitual” do seu objeto: determinados temas, bem mais “pedestres” em sua concepção e desenvolvimento, podem dispensar essas filigranas teóricas.
A metodologia é, sobretudo, uma ferramenta analítica utilizada para descrever e discutir o objeto escolhido e a teoria é uma espécie de fundamentação conceitual desse objeto, com algumas generalizações sobre o tema em espécie. Estudos de caso e pesquisa empírica são sempre bem-vindos, mesmo se eles não se encaixam em algum molde conceitual – ou o famoso “marco teórico” – que o professor acha que o candidato deva obrigatoriamente exibir. Na elaboração metodológica, o candidato deve eventualmente se propor algumas hipóteses de trabalho que serão, no decurso do trabalho, confirmadas ou desmentidas pelo tratamento oferecido ao tema escolhido.
Em matéria de estilo, conviria descartar, absolutamente, todos os apostos e predicados que possam ser colados a autores e situações, inependentemente da ação em su: ou seja, adjetivos e advérbios de qualidade – este “insígne autor”, “numa excelente análise”, em tal “obra estupenda” – devem ser literalmente escorraçados do texto. Ficam apenas colocações fáticas, objetivas, comedidas...

3. Desenvolvimento do trabalho:
Todo trabalho redacional de caráter acadêmico (e até jornalístico), de qualquer tipo – artigo, dissertação, ensaio, tese, monografia, reportagem –, apresenta, como se sabe, começo, meio e fim (além das fontes). O que quer isso dizer, numa dissertação?
No que se refere à sua estrutura formal, ela pode ser dividida, grosso modo, em quatro ou cinco partes: introdução, corpo principal do trabalho, conclusões, bibliografia e, se for o caso, apêndice. Vejamos rapidamente o que cada uma delas deve conter.
A introdução, obviamente, deve ser o capítulo inaugural – já estou excluindo aqui essas coisas anódinas, do tipo prefácio, agradecimentos a Deus e à família, louvações aos professores maravilhosos etc. –, antes mesmo do início da Parte I do trabalho, se tal for a escolha. Ela deve conter uma exposição precisa do objeto da dissertação, uma descrição do conteúdo da própria dissertação, eventuais particularidades na abordagem do tema – dificuldades encontradas, por exemplo – e uma antecipação de quais serão as conclusões do trabalho. Dividida em seções, a introdução pode inclusive conter a metodologia, a discussão conceitual ou o famoso “marco teórico”. Se metodologia e “marco teórico” forem suficientemente importantes no trabalho, eles podem ser objetivo de um capítulo à parte, um segundo capítulo inagural, por exemplo.
O corpo do trabalho contém o desenvolvimento dos argumentos do autor. Sua estrutura formal, cela va de soi, pode variar muito. Existem teses e dissertações com mais de uma dúzia de capítulos, eventualmente divididos em duas ou mais partes, assim como existem trabalhos contendo apenas quatro ou cinco capítulos de natureza cronológica-evolutiva ou temática-funcional. A divisão entre partes e capítulos e o tratamento dado pelo autor aos diferentes subtemas do trabalho devem ser discutidos pelo candidato com o seu orientador, para evitar aquele tipo de arranjo disfuncional, com capítulos desiguais entre si, que podem acabar integrando uma cara de princesa a um corpo de Frankenstein.
Conclusões são conclusões em qualquer lugar do mundo, apesar de que certos trabalhos ainda ousam discutir novos problemas – e inserir notas de rodapé – nesse único capítulo conclusivo, que nada mais faz senão recolher os resultados parciais dos capítulos ou confirmar as hipóteses iniciais do trabalho, agregando as “descobertas” do autor no decurso da pesquisa e suas reflexões críticas sobre o objeto em causa. Ponto. No máximo o autor indicará novos problemas ou questões complementares que em sua opinião devam merecer pesquisas adicionais ou até justificar novas pesquisas e eventual tese a respeito.
Quanto à bibliografia – devidamente normalizada, assim como as notas de rodapé – e eventual(is) apêndice(s) – para recolher todos aqueles suportes documentais que sobrecarregariam demasiado o corpo do texto – não preciso me estender sobre isso, pois cada um sabe o que fazer a respeito. Ouso expressar uma única preferência pessoal nesse particular: detesto aqueles trabalhos (e livros) nos quais é preciso ir constantemente ao final do capítulo, ou da obra, para ler notas ou ter as referências completas dos trabalhos citados; ainda que notas de rodapé, e remissões completas, compliquem a feitura da obra, o conforto do leitor deve vir em primeiro lugar.

4. Originalidade:
Ninguém está pedindo a reinvenção da roda, ou a redescoberta do Brasil, numa “simples” dissertação de mestrado, mas inovação e originalidade, sem glórias e adereços, podem ser extremamente bem-vindos, sobretudo se o autor pretende prosseguir carreira acadêmica ou fazer daquilo a alavanca de uma futura tese. Em todo caso, o trabalho será ainda mais valorizado se ele contiver, além da revisão da literatura corrente e de uma síntese no estrito limite do estado da arte, algum aporte próprio do autor, sua contribuição para uma nova visão daquele velho problema, seus próprios findings com base numa leitura crítica dos autores consagrados. Em outros termos, originalidade ma non troppo.

5. Finalidade ou “valor social” do trabalho:
O “valor de uso” da dissertação é o de assegurar o sucesso do seu autor nesse rito de passagem que constitui um mestrado acadêmico. O seu “valor de troca” é representado pelo aproveitamento que se possa fazer do trabalho fora dos limites estritos – e por vezes estreitos – da academia. Dali deve necessariamente sair um pequeno resumo para ampla divulgação – e agora a Capes passa a exigir depósito eletrônico do trabalho – e um artigo para publicação em veículo especializado. Melhor ainda se dali resultar um livro, mas o “dissertando” não deve necessariamente redigir o texto com essa idéia em vista. Em todo caso, o autor deve dialogar com um público mais vasto, behind seu orientador e demais membros da banca. A legibilidade laica de um trabalho desse tipo deve estar sempre presente no momento da redação do trabalho, por mais técnico ou especializado que ele possa parecer (e ser).
Aliás, durante a própria preparação do trabalho, na fase de pesquisa, ou ainda durante os créditos do mestrado, o candidato já deve ser orientado a preparar capítulos de conteúdo substantivo como se fossem artigos “publicáveis”, o que já representa uma etapa na “vaorização social” do seu trabalho de pesquisa. O autor deve poder sobreviver a essas fases árduas que os americanos chamam de ABD (all but dissertation), mas o trabalho também deve ter o mérito de “sobreviver” ao próprio autor, sob a forma de um ou mais artigos ou, hopefully, um livro comercial.

6. Bibliografia:
“Professor, o que eu preciso ler primeiro?” Essa pergunta, aceitável na graduação, já não parece mais cabível no mestrado. A apresentação de um projeto de mestrado supõe que o candidato já tenha definido pelo menos uma bibliografia inicial e elementar. Mas, claro, o mestre está ali para isso mesmo: indicar autores e títulos que lhe parecem ser obrigatórios na pesquisa e discussão daquele problema. Mas, atenção mestrando, você necessariamente saberá mais que o seu mestre naquele tema particular, se não no início, pelo menos ao final da pesquisa e redação. Mestres não podem ser especialistas em tudo e geralmente não o são. A bibliografia deve ser progressivamente construída pelo próprio candidato, e não apenas na base do Google e manuais da área: pesquisas em bibliotecas restam indispensáveis para qualquer trabalho bem feito.
Quanto à incorporação da literatura disponível no próprio trabalho, algum meio termo é possível. Assim como certos projetos possuem mais bibliografia do que idéias claras, certas dissertações deixam a desejar em matéria de cobertura bibliográfica. Por certo que uma dissertação não precisa esgotar todo o campo da pesquisa corrente, mas a revisão da literatura relevante aparece como indispensável a um bom trabalho do gênero. Autores estrangeiros deve entrar em função do mérito próprio da discussão, e não porque sejam mais “sapientes” que os nacionais – na maior parte dos casos eles de fato o são –, mas, também porque são mais numerosos, como se vê numa pesquisa do tipo Google Scholar (não esquecer, obviamente, de pesquisar com as palavras-chave em inglês, e não apenas em português). Por fim, apliquem, mesmo a contragosto, as normas da ABNT...

7. Processo de avaliação:
Entre o projeto e a finalização da dissertação deveria haver, idealmente, um exame de qualificação, isto é, uma avaliação intermediária para verificar se o candidato está raciocinando corretamente. Pode ser o capítulo central da obra – ainda em versão preliminar – ou uma apresentação geral do trabalho, em sessão na qual o candidato pode inclusive externar suas dúvidas, angústias e outros conflitos bibliográficos. É provável que os professores presentes façam tantas exigências e sugiram tantos títulos que o pobre candidato saia da sessão ainda mais angustiado, mas algo ele sempre vai aprender: a não pretender abarcar o mundo da próxima vez...
O orientador tem, a partir daí, uma responsabilidade especial quanto à redação e apresentação do trabalho final, para evitar surpresas desagradáveis em face da banca de examinadores. Pela lei dos rendimentos decrescentes, tudo tende a ficar mais difícil se o candidato delonga em demasia o exercício de redação. Este precisa ser constante, regular e com consultas periódicas ao orientador, de forma que, ao chegar na banca, tanto um quanto outro já não mais farão surpresas um ao outro. Se houver, elas virão dos demais membros da banca, que por vezes abusam do direito de fazer terrorismo psicológico no momento da defesa. Um coisa é certa: se o candidato chegou até ali – e supondo-se que o orientador tenha feito direitinho a sua parte –, ele já está aprovado numa proporção perto de 90% do final do exercício. Numa banca de doutoramento, na maior parte das vezes, o candidato sabe mais que os examinadores sobre o seu objeto de pesquisa, o que não é, ou não deveria ser, o caso nos mestrados. Mas, ainda assim, são fortes as chances de que o mestrando possa ensinar algumas coisas novas aos seus examinadores. Portanto, as palavras-chave nessas ocasiões são: confiança em si mesmo e segurança nas expressões.
Tendo cumprido todas as etapas do ritual, o candidato se descobre então um feliz sobrevivente de uma navegação que costuma durar de dois a três anos (com recifes e algumas sereias pelo caminho). Chegando finalmente na sua Ítaca, ele pode descansar por mais alguns dias, antes de retomar o seu périplo. Até ali ele trabalhou pela dissertação; a partir dali, o novo mestre poderá colocar a dissertação a trabalhar por ele...

1606; Brasília: 21 maio 2006