349) Sorry, antiglobalizadores: a pobreza mundial tem declinado, ponto!
Trata-se de um trabalho de 18 p, recém terminado (e ainda não revisto), cujo início pode ser lido abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Sumário:
1. De volta ao problema do crescimento da pobreza mundial, aliás equivocado
2. A diminuição da pobreza mundial: velhas e novas evidências
3. Os dados do problema: questões metodológicas e descobertas empíricas
4. A pobreza no mundo: diminuindo, a despeito de tudo
5. O mundo é menos desigual: como isso ocorre, e por quais razões?
6. Uma palavra final: sorry antiglobalizadores, vocês precisam mudar o discurso...
1. De volta ao problema do crescimento da pobreza mundial, aliás equivocado
Uma das mais propagadas acusações dos antiglobalizadores – OK, eles preferem chamar a si mesmos de “altermundialistas”, mas como eles ainda não mostraram a receita do “outro mundo possível”, eu continuo designando-os pelo epíteto que me parece mais apropriado; mas, retomo: – contra a globalização é a de que esse processo aprofunda a miséria e a desigualdade distributiva do mundo capitalista, contribuindo para o aumento da concentração de riqueza nas mãos de uns poucos privilegiados e reservando apenas pobreza e desemprego para a maior parte das pessoas, seja nos países pobres, seja para os pobres dos países ricos. Em poucas palavras: a pobreza mundial teria aumentado de maneira constante e acelerada com o processo de globalização. Seria isto verdade?
Nada mais distante da realidade, como eu tenho me esforçado por demonstrar, não apenas mediante contra-afirmações opinativas ou desprovidas de fundamentos empíricos, mas com base em dados estatísticos verificáveis e oficiais, como podem ser os da ONU, do Banco Mundial ou de entidades congêneres. Nessa tarefa, tenho sido, creio, um dos primeiros comentaristas, no Brasil, a divulgar os trabalhos do economista catalão, da Columbia University, Xavier Sala-i-Martin, que tem pesquisado e trabalhado sobre os dados da distribuição mundial da renda e sua evolução ao longo dos últimos trinta anos. Essas três decadas correspondem, como todo mundo sabe, ao “espoucar da globalização”, isto é, a fase final do socialismo (anos 1970-80) e o desaparecimento das últimas “terras incógnitas” para o capitalismo, com a incorporação da China e ex-satélites soviéticos à divisão mundial do trabalho (anos 1990 e início do novo milênio). Pois bem, o seu último trabalho, em fase de publicação: “The World Distribution of Income: Falling Poverty and... Convergence, Period” (draft: 9/10/2005; in The Quarterly Journal of Economics, link: http://www.columbia.edu/~xs23/papers/pdfs/World_Income_Distribution_QJE.pdf), demonstra não apenas que a pobreza tem diminuído, mas que a distribuição mundial de riqueza também tem melhorado. E agora antiglobalizadores?
Na verdade, eu também tinha partido da idéia de que a globalização aumentava a riqueza, de modo global – ao alocar investimentos em regiões antes não integradas à economia mundial –, mas aprofundava as desigualdades distributivas, dentro dos países e entre eles, sobretudo entre ricos e pobres. Tanto foi assim que no ensaio “A globalização e as desigualdades: quais as evidências?”, em um dos meus livros (cap. 8 de A Grande Mudança: conseqüências econômicas da transição política no Brasil. São Paulo: Códex, 2003; p. 117-122; link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/859GlobalizDesig.pdf), argumentando com base em estudos do PNUD – que depois se revelaram errôneos –, eu também demonstrei adesão à tese da “divergência” e da “concentração de renda”, isto é, o distanciamento cada vez maior entre os países e a concentração de renda dentro dos países, nos estratos mais ricos da população. Tentei, no entanto, separar os fatores causais propriamente domésticos – isto é, derivados de políticas econômicas nacionais – daqueles que poderiam ser eventualmente atribuídos à globalização.
Sempre pronto a contrariar meus argumentos cada vez que os fatos me indicam o contrário do anteriormente afirmado, revisei logo depois essa linha analítica ao tomar conhecimento de um dos trabalhos de Xavier Sala-i-Martin, “The Disturbing ‘Rise’ of Global Income Inequality” (NBER Working Paper 8904, April 2002; disponível no link: http://www.nber.org/papers/w8904), que resumi e discuti em meu trabalho “Três vivas ao processo de globalização: crescimento, pobreza e desigualdade em escala mundial” (link: www.pralmeida.org/05DocsPRA/1011VivaGlobaliza.pdf). Não vou agora retomar todos os pontos enfocados em meus dois ensaios citados, nem expor novamente aquele artigo de Sala-i-Martin, mas quero, neste momento, apresentar resumidamente os argumentos do economista catalão no seu novo ensaio, “A distribuição mundial de renda: pobreza declinante e... convergência, ponto”. Procurarei não entrar em detalhes técnicos (ou seja, econométricos), mas apresentarei sua metodologia e discutirei suas principais conclusões, que podem de todo modo ser conferidas no original mais acima indicado.
Para ler o restante, efetuar o download deste trabalho neste link:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1574DistribRendaMund.pdf
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
Sumário:
1. De volta ao problema do crescimento da pobreza mundial, aliás equivocado
2. A diminuição da pobreza mundial: velhas e novas evidências
3. Os dados do problema: questões metodológicas e descobertas empíricas
4. A pobreza no mundo: diminuindo, a despeito de tudo
5. O mundo é menos desigual: como isso ocorre, e por quais razões?
6. Uma palavra final: sorry antiglobalizadores, vocês precisam mudar o discurso...
1. De volta ao problema do crescimento da pobreza mundial, aliás equivocado
Uma das mais propagadas acusações dos antiglobalizadores – OK, eles preferem chamar a si mesmos de “altermundialistas”, mas como eles ainda não mostraram a receita do “outro mundo possível”, eu continuo designando-os pelo epíteto que me parece mais apropriado; mas, retomo: – contra a globalização é a de que esse processo aprofunda a miséria e a desigualdade distributiva do mundo capitalista, contribuindo para o aumento da concentração de riqueza nas mãos de uns poucos privilegiados e reservando apenas pobreza e desemprego para a maior parte das pessoas, seja nos países pobres, seja para os pobres dos países ricos. Em poucas palavras: a pobreza mundial teria aumentado de maneira constante e acelerada com o processo de globalização. Seria isto verdade?
Nada mais distante da realidade, como eu tenho me esforçado por demonstrar, não apenas mediante contra-afirmações opinativas ou desprovidas de fundamentos empíricos, mas com base em dados estatísticos verificáveis e oficiais, como podem ser os da ONU, do Banco Mundial ou de entidades congêneres. Nessa tarefa, tenho sido, creio, um dos primeiros comentaristas, no Brasil, a divulgar os trabalhos do economista catalão, da Columbia University, Xavier Sala-i-Martin, que tem pesquisado e trabalhado sobre os dados da distribuição mundial da renda e sua evolução ao longo dos últimos trinta anos. Essas três decadas correspondem, como todo mundo sabe, ao “espoucar da globalização”, isto é, a fase final do socialismo (anos 1970-80) e o desaparecimento das últimas “terras incógnitas” para o capitalismo, com a incorporação da China e ex-satélites soviéticos à divisão mundial do trabalho (anos 1990 e início do novo milênio). Pois bem, o seu último trabalho, em fase de publicação: “The World Distribution of Income: Falling Poverty and... Convergence, Period” (draft: 9/10/2005; in The Quarterly Journal of Economics, link: http://www.columbia.edu/~xs23/papers/pdfs/World_Income_Distribution_QJE.pdf), demonstra não apenas que a pobreza tem diminuído, mas que a distribuição mundial de riqueza também tem melhorado. E agora antiglobalizadores?
Na verdade, eu também tinha partido da idéia de que a globalização aumentava a riqueza, de modo global – ao alocar investimentos em regiões antes não integradas à economia mundial –, mas aprofundava as desigualdades distributivas, dentro dos países e entre eles, sobretudo entre ricos e pobres. Tanto foi assim que no ensaio “A globalização e as desigualdades: quais as evidências?”, em um dos meus livros (cap. 8 de A Grande Mudança: conseqüências econômicas da transição política no Brasil. São Paulo: Códex, 2003; p. 117-122; link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/859GlobalizDesig.pdf), argumentando com base em estudos do PNUD – que depois se revelaram errôneos –, eu também demonstrei adesão à tese da “divergência” e da “concentração de renda”, isto é, o distanciamento cada vez maior entre os países e a concentração de renda dentro dos países, nos estratos mais ricos da população. Tentei, no entanto, separar os fatores causais propriamente domésticos – isto é, derivados de políticas econômicas nacionais – daqueles que poderiam ser eventualmente atribuídos à globalização.
Sempre pronto a contrariar meus argumentos cada vez que os fatos me indicam o contrário do anteriormente afirmado, revisei logo depois essa linha analítica ao tomar conhecimento de um dos trabalhos de Xavier Sala-i-Martin, “The Disturbing ‘Rise’ of Global Income Inequality” (NBER Working Paper 8904, April 2002; disponível no link: http://www.nber.org/papers/w8904), que resumi e discuti em meu trabalho “Três vivas ao processo de globalização: crescimento, pobreza e desigualdade em escala mundial” (link: www.pralmeida.org/05DocsPRA/1011VivaGlobaliza.pdf). Não vou agora retomar todos os pontos enfocados em meus dois ensaios citados, nem expor novamente aquele artigo de Sala-i-Martin, mas quero, neste momento, apresentar resumidamente os argumentos do economista catalão no seu novo ensaio, “A distribuição mundial de renda: pobreza declinante e... convergência, ponto”. Procurarei não entrar em detalhes técnicos (ou seja, econométricos), mas apresentarei sua metodologia e discutirei suas principais conclusões, que podem de todo modo ser conferidas no original mais acima indicado.
Para ler o restante, efetuar o download deste trabalho neste link:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1574DistribRendaMund.pdf
2 Comments:
Comentário enviado pro Ivan Tiago, de Salvador, BA:
On 11/04/2006, at 11:02, Ivan Tiago M. oliveira wrote:
Caro Prof. Paulo,
Acabei de ler o artigo que você me enviou sobre a convergência de renda mundial. Traço, abaixo, alguns comentários.
Primeiramente, quero dizer que o artigo está muito bom. Você conseguiu fazer uma abordagem ponderada e bem-escrita sobre um assunto que, por ser tratado econometricamente e envolver estatísticas complexas e controversas, acaba por ser mal-compreendido por muitos que se aventuram em estudá-lo.
Para mim, está claro e evidente que o mundo vem seguindo um processo de convergência global na distribuição de renda. Não tenho o que acrescentar em termos do debate acerca deste ponto, basta ler o seu artigo fundamentado no estudo do Sala-i-Martin para observar de forma patente as bases empíricas comprobatórias de tal fato.
Contudo, saindo um pouco do assunto em si discutido no texto, algumas questões tendem a ser colocadas. Por exemplo, como você bem salientou, em muitos países, inclusive os EUA, tem-se observado um aumento da concentração de renda. Tomando os EUA como exemplo, o que estaria fomentando tal aspecto? Quais seriam as bases fulcrais da piora na distribuição de renda norte-americana, for instance?
Sinceramente, não tenho senão algumas idéias sobre este processo interno de piora na distribuição de renda dos EUA, por exemplo. Quero aqui colocá-las para que você possa me indicar seu posicionamento acerca das mesmas. Em síntese eu diria que o que estaria ocorrendo nos EUA seria um processo no qual, diante do aumento da interdependência econômica global onde as trocas internacionais e o deslocamento de investimentos se intensificaram, a economia norte-americana, assim como diversas outras no mundo, estaria passando a depender cada vez mais de suas vantagens comparativas em setores de ponta (como muitos serviços, indústrias bastante intensivas em tecnologia, etc.) nos quais se exige uma qualificação profissional mais avançada. Tal fato pode estar causando um aumento maior da renda dos profissionais bem-qualificados em detrimento daqueles com menor qualificação que trabalham em setores mais atingidos pela deslocalização das indústrias americanas ou em serviços “não-especializados”. No agregado, esse quadro estaria indicando uma tendência de incremento da concentração de renda nos EUA...
Estou apenas levantando algumas questões que podem não ser confirmadas por elementos empíricos, entretanto, servem enquanto dispositivos inicias de busca de respostas para os fenômenos que acontecem em no mundo econômico.
Fico por aqui.
Abraços,
Ivan Tiago
Meu comentário de resposta:
Grato pelas observacoes meu caro.
Nao sei se eu tenho competencia, ou conhecimento suficiente, para explicar as razoes da concentracao de renda nos EUA (e na GB) nessas ultimas duas decadas de globalizacao galopante e liberalismo exacerbado. O pessoal da esquerda diria que é por isso mesmo, mas eu nao tenho tanta certeza.
Em todo caso, tento algumas explicacoes naquele primeiro artigo meu citado, que está no meu livro e que esta linkado no meu artigo enviado. Veja o texto e eu dou explicacoes internas para esse problema, depois volte para me comentar.
Voce me da muitas razoes, abaixo, e acho que voce deve ter razao, instintivamente e empiricamente, eu diria, pois é isso que deve e está ocorrendo. Mas, creio que em alguma pesquisa nos journals academicos americanos encontrariamos algumas chaves explicativas, mas eu nao tenho essas referencias.
O abraço do
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com
www.pralmeida.org
www.diplomaticas.blogspot.com/
Postar um comentário
<< Home